A fragmentação Política
(Wanderley Todai Júnior)
Se essas tendências entrelaçadas se desenvolvessem sem freios, homens e mulheres seriam reformulados no padrão da toupeira eletrônica, essa orgulhosa invenção dos tempos pioneiros da cibernética imediatamente aclamada como arauto do porvir: um plugue em castores atarantados na desesperada busca de tomadas a que se ligar. (...) Essa parece ser a distopia feita sob medida para a modernidade líquida – e capaz de substituir os terrores dos pesadelos de Orwell e Huxley. (BAUMAN, 2002, p 22). A Modernidade Líquida (BAUMAN, 2002), hiper-modernidade (GIDDENS) ou pós-modernidade (LYOTARD, 2006) é um momento da era moderna em que toda essa disposição de transformação e desconstrução seguida de reconstrução foi levada ao extremo e, conseqüentemente, ao descontrole. Quando foram perdidas as rédeas da carruagem da flexibilidade, essa se voltou contra seus condutores, ou pelo menos contra aqueles que tinham para ela projetos. Desse modo, a desconstrução passou a desconstruir suas próprias plantas originais, fragmentando seus projetos universais, negando, em tese, toda forma de narrativa ou metanarrativa, que atuasse sobre si. Como disse Lyotard “Na sociedade e na cultura contemporânea, sociedade pós-industrial, cultura pós-moderna, a questão da legitimação do saber coloca-se em outros termos. O grande relato perdeu sua credibilidade, seja qual for o modo de unificação que lhe é conferido: relato especulativo, relato de emancipação”. Para Bauman, o moderno contemporâneo, que ele denomina “líquido”, diferentemente do moderno sólido, caracteriza-se por fazer parecer que todas as bases estruturais que informam a sociedade, em seus valores e diretrizes e comportamentos, não estão mais dadas, ou não são previa e estruturalmente determinadas, não estão mais interligadas umas às outras e, todas as estruturas de atuação, como o trabalho, o consumo, a vida pública e social, a vida individual e até os sistemas econômicos, estão, na verdade, não integradas, não se acompanham em determinação umas das outras, mas podem realizar-se independentemente. As atividades exercidas pelos sujeitos neste sistema não estão interligadas, ou, se estão, a ligação é mínima, apenas superficial, não existindo qualquer mandamento conjuntural que impeça os atores deste palco de realizarem as tarefas determinadas (o trabalho, consumo, a individuação), que não seja a própria indisposição destes atores, e qualquer evidência de uma política estrutural determinante não pode ser vista, se é que ela existe. Essa fase “líquida” do moderno joga um jogo do “faz de conta”, atribuindo à micro-política da vida a responsabilidade pela execução das tarefas que são dela esperadas. As expectativas das realizações ficam condicionadas à capacidade dos indivíduos fragmentados de corresponder à demanda da realização, e qualquer eventual fracasso é automaticamente atribuído a estes indivíduos que foram pouco ou não totalmente diligentes, como deveriam ter sido.
A recente configuração feita da modernidade por Michael Foucault, baseada no “Panóptico” de Benthan, onde os sujeitos eram observados pelos vigias que garantiam a atuação daqueles e a perfeita manutenção da ordem estrutural, não pode mais ser utilizada como referencial das estruturas de poder que coordenam a sociedade líquida, pois não mais é a figura do “grande olho”, ou do “grande irmão”, no sentido fordista, que organiza as estruturas sociais e as mantém passíveis, mas é a própria distribuição dos poderes aos níveis micro e fragmentados que, distribuindo a responsabilidade estrutural para os indivíduos, perpetua o status quo. As tensões mantidas pela coexistência entre vigias e internos marcavam uma realidade de engajamento. Um trabalhador de uma fábrica fordista no final da década de 50 era uma figura engajada numa estrutura que ia muito além dele. Do mesmo modo, o empregador dessa fábrica sabia dasresponsabilidades que cercavam suas decisões, estivesse ele preocupado ou não com isso. As tensões que se
Resumos Relacionados
- Identidade
- Consumo, Logo Existo!
- Qual é A Estrutura Social
- Modernidade Liquida
- Simulação Da Identidade No Espaço
|
|