Psicop.: clínicas de hoje/Aids
(André Malbergier)
No capítulo Aids e sua psicopatologia com enfoque na depressão, suicídio e drogas, do livro Psicopatologia: Clínicas de Hoje, o autor André Malbergier, médico psiquiatra, discorre sobre a invasão do HIV no sistema nervoso central (SNC) no estado precoce da contaminação pelo vírus. "Todavia, as complicações neurológicas tendem a ser estágio-específicas, ocorrendo nas fases tardias da doença, quando se instala franca imunossupressão", afirma o especialista. Infecções oportunistas, encefalites, tumores intracranianos são exemplos de complicações neurológicas, que terão a ver com quadros depressivos mais para os estágios finais da doença.
No entanto, descreve André Malbergier, o quadro psicopatológico depressivo não está associado à invasão do HIV no cérebro, ao menos nos primórdios da infecção. Embora seja o diagnóstico mais freqüente na interconsulta psiquiátrica de pacientes infectados ou que apresentam Aids, a depressão não está associada à contaminação física em si, mas muito mais ao impacto psicológico sobre o paciente. Ela se desencadeia mais facilmente em pessoas que já apresentavam quadros depressivos antes da contaminação, e está mais associada à nova realidade ambiental e psíquica, e não física, propriamente, no início da doença.
"Os sintomas mais comuns são: tristeza, desânimo, fadiga, dificuldade de concentração, prejuízos de memória, apatia, ansiedade, hipocondria e diminuição da libido. A intensidade dos sintomas é muito variável e depende da personalidade pré-mórbida e da capacidade do indivíduo de lidar com o estresse", considera o autor. Já os sintomas físicos debilitantes da doença, em fase avançada, como anorexia, fadiga, fraqueza e perda de peso, podem mimetizar os indicadores anteriores.
Sobre suicídio e tentativa de suicídio, o autor afirma que em usuários de drogas injetáveis (UDI) infectados pelo HIV o índice de intenções praticamente não se modifica, enquanto em não-UDIs este tipo de intenção aumenta. "História prévia de tentativas de suicídio é mais freqüente em soropositivos dependentes de drogas (26%) do que em homossexuais masculinos (8%), sem haver diferenças significativas entre HIV positivos e negativos".
Ou seja, uma interpretação possível sobre o artigo de André Malbergier, e que pode levar a novas formas terapêuticas (novas clínicas de hoje e para o futuro), é que a prevenção da contaminação por HIV vai muito além da distribuição e uso de preservativos e seringas. Um olhar psicanalítico pode detectar por trás da contaminação pelo HIV que a pulsão de morte supera a pulsão de vida em vítimas "voluntárias" da Aids - as vítimas involuntárias são aquelas que não se expõem a riscos, mas acabam sendo contaminadas por pessoas de sua confiança.
UDIs e pessoas que, independente da opção sexual, se colocam em risco (suicídio) pelo compartilhamento de seringas e pelo sexo com vários parceiros, sem proteção, já trazem um quadro depressivo, independente da contaminação pelo HIV. Nesses casos, o que deve ser investigado pelo terapêuta e compreendido pelo paciente é a origem da pulsão de morte, para uma tentativa de reversão à pulsão de vida, por meio da recriação deste sujeito.
A simples distribuição de equipamentos protetores em relação à contaminação não é suficiente. O autor apresenta, ao longo do artigo, novas formas de prevenção, como a de Redução de Danos (RD), já utilizada no Brasil - há exemplos no livro Clínica Peripatética. A RD pode ser feita pela intervenção de ex-drogados junto às comunidades de UDIs, para conscientizá-los sobre os riscos e a evitação dos mesmos - sem, com isso, obrigar os usuários ao abandono da drogadição, cujas origens não se superam apenas pelo abandono da droga. Este "estar junto" de seus iguais que superaram a autodestruição tem sido mais eficiente do que as propostas já esgotadas oferecidas pelos tradicionais sistemas de saúde pública. (Psicopatologia: Clínicas de Hoje, Via Lettera Editora e Livraria, 2006, 176 p.)
Resumos Relacionados
- Sexo(aids)
- Hepatite Tipo B
- O Que é Meningite?
- Transtornos Neuropsiquiátricos Associados Ao Hiv
- Bactéria Que Matou Modelo é Comum
|
|