O Deserto dos Tártaros (Il Deserto dei Tartari)
(Dino Buzzati)
Nas colinas escarpadas, além da cidade, ergue-se o forte Bastiani, um reduto isolado que serve como guarnição de fronteira. Adiante, apenas um grande deserto, por ninguém transitado. Designado para servir nesse cenário desolado, o tenente Giovanni Drogo vê cair por terra suas expectativas: distante dos prazeres mundanos, do acolhimento e da rotina que conhecia, o forte é a face da renúncia estampada em todos os semblantes dos que ali vivem. Temeroso de assumir uma imagem desfavorável diante de seus superiores, o jovem tenente decide ficar temporariamente no forte, em vez de partir imediatamente dali. Na solidão de seu dormitório, Drogo antevê a consumação de seus dias num mundo sem razões satisfatórias, personificado pelas centenas de sentinelas guardando um desfiladeiro por onde ninguém passaria. Em nome de um destino heróico, os oficiais do forte aguardam um fato de grave importância naquela fronteira, crença que contagia os subalternos e lhes serve de justificativa para postergar suas saídas daquela praça. Reféns de si prórpios, suas vidas perdem o viço da juventude e a alegria de viver, reprimidos pela esperança que a paisagem do deserto, ao norte, manifesta na linha do horizonte; nela, há a misteriosa névoa permanente, encobrindo a visão do futuro. Mas o passar do tempo revela que o elo de ligação entre o forte e seus ocupantes (a renúncia e os indivíduos) é o comodismo com a mediocridade, disfarçada sob o verniz da perspectiva de que o futuro justificará os atos do presente. Todos os dias são iguais, mas não inesgotáveis: enquanto as boas coisas parecem estar sempre à espera, a juventude passa. Mesmo a vida humana perde qualquer valor e o indivíduo passa a ser impessoal diante dos regulamentos que regem a relação entre o forte e a guarnição: a punição para a quebra das regras pode representar, em última análise, a mais grave de todas as renúncias humanas: a de desconhecer o outro. Todos sabem que é preciso deixar o forte, mas nada farão. Renunciar à própria renúncia é impossível, e se algum dia o deserto revelar-se real na na expectativa, poderá ser demasiado tarde.
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