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Psicopat.: Clínicas de Hoje/Ueinzz
(Paula Francisquetti)

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"Ueinzz": Uma forma de inteligência? - propõe a psiquiatra e psicanalista Paula Francisquetti, em artigo publicado no livro Psicopatologia: Clínicas de Hoje (Via Lettera Editora e Livraria, São Paulo, SP, 2006, 176 p.). Ela historia o nascimento do grupo de teatro Ueinzz, como forma de terapia para pacientes psicóticos - aqueles cuja integração em um mundo de estrutura neurótica é difícil, e geralmente os joga na solidão. Ueinzz nasceu na década passada, como um grupo do hospital-dia paulistano A Casa, que também forma acompanhantes terapêuticos - mais uma cena do que se pode denominar "clínicas de hoje".
Veio para transformar pacientes em atores, terapeutas em atores, atores em terapeutas, atores em personagens, público em participante de um acontecimento e muito mais, diz a autora. Ueinzz dá a entender que introduz o sonho, a subjetivação no mundo psicótico - geralmente desprovido de ambos, o que gera sofrimento em uma estrutura neurotizante pautada pela fantasia (desejo) contracenando, construindo e consumindo o real. A fantasia que cria outras realidades, para suportar o insuportável, é chamada delírio. E quem delira é louco, apartado pelos que só entendem um tipo de código, linguagem - quem sabe?
"O que a arte, e em especial este teatro singular (e singularizante, digo eu) que recebeu o nome de esquizocenia tem a falar para nós, psicanalistas, sobre criação e linguagem?" Sérgio Pena cunhou o termo esquizocenia para designar a interface teatro/loucura, refere a autora. Em outro trecho, Paula Francisquetti revela. "(...) o contato com o público, nas apresentações, é da ordem do sonho, mas um sonho que não se sonha sozinho, é um sonho compartilhado, é um sonho vivido no coletivo e que dá alegria. Poderíamos dizer que a narrativa apresentada não é informativa, linear e didática; mas fragmentária, perturbadora, poética."
Para o paciente, o retorno obtido, além da integração, ao menos momentânea, quem sabe ilusória, durante aquela parcela de tempo que ocupa uma peça, vai mais longe. São as "marcas" que ficam, que me parecem o pedido de um contorno, de um limite expresso simultaneamente no corpo e na alma. "Quando a gente faz um processo até o fim ele marca. Eu peço marcas, pelo amor de Deus, mais marcas para eu saber quem eu sou, o que está acontecendo. Depois que marca, você pode lembrar, você pode obter aquilo como uma coisa concreta, você fica feliz quando não esquece mais, quando você incorpora", avalia a autora.
Ela cita também as transformações na arte de atuar dos não-pacientes, independente de contracenarem com o Ueinzz. O ator, diz Paula Francisquetti, "não remete mais a uma pessoa verdadeira, a uma pessoa como um todo, a uma série de emoções, mas constrói o personagem a partir de elementos isolados". "O ator contemporâneo... não é mais um simulador, mas um estimulador; ele "atua" antes de tudo suas insuficiências, suas ausências, sua multiplicidade. Não é tampouco obrigado a representar uma personagem ou uma ação de maneira global e mimética, como uma réplica da realidade." (Pavis, P. A análise dos espetáculos. São Paulo: perspectiva, 2003, p.55)
Isso me faz lembrar (e esta é a minha opinião sobre o que eu li, e não necessariamente o que pensa a autora do artigo) que quem constrói personagens a partir de elementos isolados, criando um delírio, é o psicótico... é aquele que de manhã toma chá com a rainha da Inglaterra, e à tarde lê, nas entrelinhas de uma entrevista dada pelo presidente Lula e publicada em um jornal, mensagens cifradas para si. Faz isso, porque saber de si talvez seja insuportável - não admite ser contrariado/desmentido, por exemplo, como na revelação de que Vladimir Putin não é o primeiro-ministro inglês, enquanto acredita piamente nisso; e, assim, muito menos, que lhe digam de si. Onde as palavras são insuficientes ou agressivas/invasivas demais, entra a cena, a metáfora, a poesia, o contorno/amparo não dito.
Não muito diferente do neurótico que cria um mundo de fantasias que podem ser supridas pelo consumo (saem as palavras, entram os objetos investidos de sonhos), como forma de esquecimento da sua depressão e outras psicopatologias - e em especial das suas origens. O que não deixa de ser um delírio.



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