As tascas do Porto, estórias e memórias servidas à mesa da cidade
(Raul Simões Pinto; com fotografias de Gabriela Felício)
Sem cerimónias arranjam-se as mesas. Estendem-se as toalhas aos quadrados. Colocam-se os pratos, copos e guardanapos. Estamos no Pedro dos Frangos, uma churrasqueira situada na Rua do Bonjardim, uma das mais emblemáticas ruas da Baixa do Porto. Alguns traços típicos ainda lembram um outro tempo, o do senhor Pedro, o velhote antigo dono do tasco, falecido há 27 anos. A casa, a caminho da meia-idade, é agora gerida por um sobrinho do “fundador”. Repleta de gente, a meio da tarde, serve o espaço para a apresentação de um livro: “As tascas do Porto”. A obra de Raul Simões Pinto, com fotografias de Gabriela Felício, publicada pelas Edições Afrontamento, é um inventário das mais castiças tascas portuenses. “Uma última oportunidade” para preservar a memória de uma “instituição cívica”, nas palavras de Hélder Pacheco, historiador portuense e investigador. Coube-lhe a apresentação do livro. Vistos como lugares de “suspeição moral”, a história das tascas não conta apenas desgraças de “borrachões” nem de “manguelas”. Vistos pela burguesia como “lugares de vícios”, as tascas foram “espaços de liberdade” operária no século XIX. Mas também desempenharam um papel social. “Era nas tascas que se faziam as caixas dos 20 amigos, mealheiros onde os frequentadores poupavam uns tostões ou pediam empréstimos: “Para enterrar um parente, para casar um filho, para organizar um passeio, quanto mais não fosse a Lisboa… ”, recordou Hélder Pacheco. “A parte mais pobre da cidade tinha na tasca um sustentáculo cívico.” Um passado repleto de outras “estórias” que, segundo Hélder Pacheco, já não se contam no presente. “Há que ser realista, as tascas como lugares castiços vão deixar de existir, umas já fecharam, outras vão fechar, outras ainda podem sofrer uma operação de cosmética, mas vão acabar por morrer.” Perante este cenário, a pertinência da obra não carece de mais justificação. São 255 páginas com fotografias que mostram as tascas que ainda resistem. E contam as vivências dos fregueses que por enquanto não as deixam fechar.
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