Correio da Manhã
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As Finanças vão penhorar um lar de
idosos em Lisboa para cobrar uma dívida ao Fisco. No palacete do século
XIX, que funciona como lar há 14 anos, vivem 32 idosos.O anúncio da penhora não surpreendeu os
funcionários do lar da terceira idade Liga dos Amigos dos Hospitais,
que há vários anos lidam com o acumular de dívidas. “Actualmente temos
um passivo de dois milhões de euros. Todos os meses temos de pagar
cinco mil euros à Segurança Social. Não conseguimos”, refere Filomena
Rodrigues, presidente da direcção. A tesoureira do lar, Fátima
Agostinho, adianta ainda que o Estado congelou as verbas mensais a que
tinham direito exactamente por causa das dívidas. “Se não foi para nos
asfixiar não sei que outro motivo existirá.”Indiferentes a toda
esta questão estão os idosos, que vivem no lar há vários anos. Muitos
juntam-se no salão, enrolados em mantas e junto do aquecedor, enquanto
se distraem com a televisão. Outros optam pela sesta num quarto que já
sabem que terão de abandonar eventualmente.O lar nunca deu
lucro, mas para os 24 funcionários não é isso que está em causa. “As
despesas mensais rondam os quarenta mil euros. Não temos apoios, só
fazemos entre vinte a trinta mil euros por mês. Mas nunca recusámos um
idoso por não conseguir pagar a mensalidade”, refere com orgulho a
tesoureira, que exemplifica com duas utentes, mãe e uma filha
deficiente com cinquenta anos, que apenas pagam o que conseguem, cerca
de 550 euros. Segundo a tabela de preços deveriam pagar 1800.O
anúncio da penhora publicado no suplemento de ontem do Correio da Manhã
explicita que o Fisco avançou para “venda judicial”, sendo o valor base
do imóvel de aproximadamente um milhão de euros. A direcção do lar
decidiu adiantar-se à penhora e está a analisar propostas para vender o
palacete de quatro pisos, na zona do Príncipe Real, apesar de não
avançarem com os valores oferecidos. O plano da Liga é usar o dinheiro
da venda para pagar as dívidas e seguir em frente.“O nosso
objectivo é continuar a apoiar os idosos. Já sabíamos que teríamos de
sair, pelo que vamos vender o palacete e levar os 32 idosos que cá
vivem para outro local, que compraremos com o montante da venda”,
garante Filomena Rodrigues. O ACUMULAR DE DÍVIDASDesde
1990 que as dívidas não param de crescer. Já passaram pelo lar várias
direcções mas nenhuma conseguiu impedir que a situação chegasse à
penhora do lar por parte das Finanças. Já tinha sido vendido um outro
edifício propriedade da Liga de Amigos dos Hospitais, que servia para
consultas externas de saúde, de forma a atrasar a penhora. O dinheiro
serviu para pagar parte das dívidas, que não são só à Segurança Social,
e para fazer obras no antigo edifício. O lar queixa-se da falta de
apoios, particularmente da parte do Estado, “que em vez de ajudar,
faz-nos isto”, referem com indignação. A maior parte da receita mensal
é utilizada para cumprir acordos do tribunal para pagar dívidas que se
foram acumulando. SAIBA MAISPALACETE DE 1892O
edifício pertencia a uma família nobre que o doou à Liga dos Amigos dos
Hospitais em 1926. Durante esse período até hoje, foi hospital com
bloco operatório, maternidade e chegou a estar alguns anos abandonado,
depois do 25 de Abril. Desde 1996 que é um lar de apoio à terceira
idade, com capacidade para 40 idosos, espalhados pelos quatro pisos.FUTURO A
direcção do lar planeia vender o palacete e transferir os 32 utentes
para um novo lar que planeia adquirir com o dinheiro da venda. Ainda
não há certezas quanto ao local, mas preferiam manter-se na área de
Lisboa ou arredores. “Para que seja possível às famílias fazerem
visitas, é preferível ficarmos por perto.” Mas os preços praticados na
capital podem leva-los para mais longe.
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