Resumo de Felicidade não se encontra, constrói-se

Felicidade não se encontra, constrói-se

Todo ser humano psicologicamente saudável é senhor de sua vida porque age conscientemente. Basicamente, existem dois processos através dos quais realizamos nossas construções existenciais. Ou agimos impulsivamente, materializando no mundo objetivo nossos sentimentos e pensamentos sem qualquer critério e julgamento; ou analisamos cuidadosamente as possibilidades de ação e as suas naturais conseqüências, para depois então concretizarmos nossas idéias ou nossos ideais.
Ter ideais é mais do que ter idéias. Os verdadeiros ideais são aquelas idéias amadurecidas no laboratório da consciência e desenvolvidas na arena das relações.
A ética é a parte da filosofia que nos ajuda a refletir sobre a qualidade e o valor dos nossos ideais e naturalmente das nossas ações. Aristóteles[1] foi um dos primeiros pensadores a analisar com profundidade a questão da ética na construção da vida de relação. Para ele, todo conhecimento e todo trabalho visam a algum bem. O bem é o grande objetivo de toda ação. A vontade de fazer o bem é o que diferencia a ação do homem da dos animais.
O grande filósofo fez uma peculiar indagação que certamente fundamentou toda a elaboração do pensamento ético e ainda o sustenta até os nossos dias: “Qual é o mais elevado de todos os bens que se pode alcançar pela ação?” A resposta natural foi: a FELICIDADE.
A felicidade, portanto, também é resultante de ações empreendidas pelo homem. Ou seja, ela não é simplesmente encontrada num passe de mágica, mas construída passo a passo, conquista a conquista, a cada ação no Bem, a cada construção nobre e edificante.
Esse simples pensamento de Aristóteles já é o suficiente para derrubar o Mito do “Encontro com a felicidade” e apresentar o Ideal da “Construção diária e permanente da felicidade verdadeira”.
Do homem comum aos notáveis cientistas, filósofos e artistas, todos estão plenamente de acordo que a grande finalidade da vida é ser feliz. E, todos os trabalhos desenvolvidos na Terra, todas as nossas construções sociais, políticas, científicas, tecnológicas, filosóficas, artísticas e religiosas consistem em melhorar a qualidade de vida no planeta.
Nossas edificações culturais procuram consolidar na Terra o bem-estar existencial e a harmonia entre todos os elementos sociais.
Mas, juntamente com o trabalho e o esforço de muitos que estão realmente empenhados no ideal de construção da felicidade, outros tantos prosseguem, inconscientemente, elaborando verdadeiras ilusões no que diz respeito à conquista da plenitude.
Uma das mais evidentes ilusões criadas pelos seres humanos nesse sentido é a crença de que, “Um dia!”, simplesmente “encontraremos” a tão sonhada felicidade. Esse encontro está sempre condicionado a algum fenômeno que ocorrerá em nosso “mundo de fora”. Depende sempre e tão somente de algum fator externo. Algo que encontraremos de uma hora para outra e que nos deixará em estado de perfeita plenitude.
Pode ser a aquisição da casa própria ou de um automóvel luxuoso; a conclusão de um curso superior ou um emprego de destaque; o encontro com o grande amor da nossa vida ou a realização do grande sonho da pater-maternidade... múltiplos são os fatores que criamos para um dia nos trazerem a tão sonhada felicidade.
No entanto, o mais curioso de tudo isso é que, no mundo, encontramos facilmente um número incalculável de pessoas que, apesar de possuírem casa própria, carro do ano, emprego bem remunerado, prestígio social, cursos superiores, de terem se casado e se tornado pais, prosseguem infelizes e amarguradas.
Se, de fato, tais ocorrências e acontecimentos fossem invariavelmente o fundamento da felicidade inabalável, tais pessoas jamais se sentiriam desventuradas.
É claro que não estou desconsiderando a importância de cada uma dessas conquistas na vida de cada homem ou mulher. Cada uma delas tem o seu valor relativo, sua importância no contexto existencial. A vida é mesmo um grande quebra-cabeça que estamos aos poucos aprendendo a montar.
A grande questão é que, se cada conquista do “mundo de fora” não estiver assentada num valor do “mundo de dentro”, tudo será em vão.

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