A Viagem Interior
(James Wells)
Toda curiosidade é o desejo pelo desconhecido. E, em geral, gostamos de desvendar enigmas e conhecer coisas novas. O conhecimento do novo normalmente renova nossas energias íntimas, alegra a alma, faz a imaginação expandir, alimentando novas descobertas.Estamos sempre a viajar para fora, desejosos por novas e interessantes descobertas. Na esperança de que o mundo nos ofereça a alegria de viver.De fato, todas as experiências no mundo de relação podem ser enriquecedoras, a depender da nossa capacidade de aprender com elas. O novo e o desconhecido são realmente convites da Vida para o nosso crescimento emocional. No entanto, já vimos que nesse afã de ganhar a riqueza do “mundo de fora”, o homem, muitas vezes, tem perdido a beleza do seu “universo interior”.Vícios de toda ordem, paixões dissolventes, comportamentos desonestos e atitudes egocêntricas têm caracterizado os viajores do “mundo de fora”. Mas, relembrando a palavra do maior Terapeuta da Humanidade, “de que valerá ao homem ganhar o mundo e perder a sua alma?”. É óbvio que não defendo aqui o isolamento social. Não se trata de se afastar do convívio daqueles que não pensam e não agem como nós, pois ninguém pode desenvolver suas habilidades internas distante do convívio social. Nossas idéias e convicções precisam ser colocadas à prova. Necessitam ser testadas na arena existencial para se verificar se de fato são verdadeiras e coerentes. Por sinal, o verdadeiro religioso não é aquele que se isola do mundo para não ser contaminado por ele, mas aquele que vive no mundo, sem ser mundano e pervertido, trabalhando permanentemente pelo seu progresso e melhoria. O próprio Cristo conviveu com ricos e pobres, saudáveis e doentes, justos e pecadores, legando-nos a grande mensagem da solidariedade e do amor incondicional. Porém, é importante observarmos que ele não se deixou ser influenciado pelo orgulho dos poderosos, nem ser contaminado pelo desequilíbrio dos doentes ou pelos equívocos dos pecadores. Viveu e conviveu com todos, tornando-se através de sua Mensagem a grande Luz do Mundo. E, cada vez mais, nos tempos atuais, seus ensinamentos sobre o amor, o perdão e a humildade têm sido reconhecidos pelos estudiosos do comportamento como diretrizes psicológicas profundamente seguras e eficazes. É interessante rememorar que o símbolo de identificação dos primeiros cristãos era o peixe. E o peixe de água salgada, embora passe toda a sua existência mergulhado no oceano, quando pescado, precisa ser devidamente temperado, por não ter sido sua carne penetrada pelo sal dos mares. Ou seja, ele vive no oceano, mas não é contaminado por ele. Assim também vivem o homem e a mulher de bem no contexto do mundo, sem se deixarem corromper pelos equívocos do mundo. Trabalhando permanentemente com suas idéias e atitudes pela transformação social, que sabem ter início na transformação individual de cada consciência. Quando digo que há algo mais importante do que as viagens para o “mundo de fora”, estou me referindo à necessidade de viajar para dentro de nós mesmos. Identificando nossas tantas potencialidades – ainda adormecidas –, e também nossas limitações. Há milênios, o ser humano tem optado pelo conhecimento do universo exterior em detrimento do autoconhecimento, elaborando uma terrível ilusão a respeito da conquista da felicidade. O “mundo de fora” somente será agradável se nossos pensamentos e emoções estiverem equilibrados. As formas exteriores só podem ser admiradas se interiormente a pessoa estiver harmonizada consigo mesma. O reconhecimento da riqueza do “mundo de fora” depende da identificação da riqueza do “mundo de dentro”. Onde um poeta vê encanto e poesia, o homem sem sensibilidade encontra o nada e o tédio. Onde o artista encontra beleza e inspiração, o “cego de espírito” contempla formas vazias, sem qualquer significado. Por isso se ouve falar que a beleza não está no objeto observado, mas nos olhos do observador. A proposta da Viagem Interior -o Autoconhecimento - é tão antiga quanto a própria filosofia.Sócrates, o grande filósofo já mencionado anteriormente, foi quem primeiro divulgou a importância do “conhecimento de si mesmo” na conquista da felicidade. Sabe-se que ele retirou do Oráculo de Delfos a notável diretriz: “Conhece-te a ti mesmo”. Frase profundamente consonante com a teoria que ele mesmo desenvolveria ao longo de sua vida, e denominaria de Maiêutica (parto de idéias). Segundo Sócrates, a verdade já se encontra na intimidade de cada um de nós.O verdadeiro sábio, portanto, não é aquele que ensina “de fora para dentro”, mas aquele que através de perguntas e questionamentos, promove em seus interlocutores a Viagem Interior, oportunizando a cada um travar contato com sua realidade profunda, com sua essência, fazendo brotar o conhecimento “de dentro para fora”. Como já vimos, essa é a proposta da verdadeira Educação. Despertar os valores internos, desenvolver as potencialidades positivas do aprendiz, ajudar no seu autodescobrimento.
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