Memórias de uma grávida
(Tatiana Bonemer)
Muitas vezes, cansamos de ficar contornando situações. Ficamos vinte e quatro horas tentando evitar as derrotas. Mas os desafios sempre vêm. Podemos passar um tempo agradável sem eles, mas se voltarem de repente e com tudo, todo cuidado torna-se pouco. O lema da vida é este, andar na corda bamba. Quando tudo parece perfeito, prepare-se, algo inexplicável pode acontecer. Isso cansa. Cansa ficar na tentativa, ter que explicar nossos sentimentos, dar carinho e atenção em demasia, a falta de reconhecimento, o desamor, a descompaixão, a teimosia, a indiferença. Esse era um momento, talvez o único e mais precioso, em que eu não precisava estar sendo testada pela arrogância e desafeto. Amor e afeto são muito bons de recebê-los quando nos é dado naturalmente, sem ser por obrigação. Não estou nesse mundo para condenar ou culpar, jamais pensei dessa forma. Mas sinto quando tudo vai bem, assim como quando tudo vai mal. Tento aconselhar não por desconfiança ou egoísmo, mas sim porque sei que fará mal, que acabará com uma relação. Infelizmente, muitas vezes as pessoas que amamos escolhem ou preferem não ouvir neste momento, ou ainda, preferem arriscar uma, duas ou até infinitas vezes. Temos apenas duas opções neste instante: escolher a inércia ou escolher ser feliz. Enfim, essa é a pior parte, talvez a mais difícil. Esperar que o outro queira não só ouvir, mas enxergar. Pode ser que isso aconteça amanhã, ou daqui a meia hora, ou pode ser que esperamos uma eternidade e mesmo assim não venha a concretizar. O que fazer? Ainda procuro respostas aqui dentro de mim, tentando a cada dia não fracassar, nem desistir. Sigo acreditando que o lado bom, do amor, do zelo, da gratidão, possa renascer, e quem sabe, se perpetuar.
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