Células Estaminais na reparação cardíaca
(Charles A. Goldthwaite; Jr.; Ph.D.)
A doença cardiovascular continua a ser a primeira causa de morte em países desenvolvidos, devido, em parte, ao aumento dos factores de risco como diabetes, obesidade e tabagismo. A evolução da investigação farmacêutica tem vindo a aumentar a sobrevivência face aos eventos cardíacos, não contrapondo, no entanto, totalmente, a diminuição da capacidade funcional cardíaca.
Na doença isquémica, nomeadamente, verifica-se uma perda de células do músculo cardíaco, criando uma zona não fibrótica contráctil que leva à degeneração de todo o órgão. As soluções apresentadas actualmente, tanto pela ciência como pelo organismo, não são totalmente eficientes. Esta dificuldade de regeneração dos tecidos cardíacos levou equipas de investigação a explorar aplicação de células estaminais embrionárias ou de adultos (derivadas da medula óssea e células endoteliais) na regeneração do miocárdio danificado.
Os primeiros resultados demonstram-se promissores.
Existe um grande grupo de células potencialmente viáveis para este fim.
De entre elas referimos os mioblastos esqueléticos autólogos (do próprio individuo) que injectados num coração deprimido aumentam a sua força de contracção. Estas células libertam factores de crescimento e outras moléculas que induzem a formação de novos vasos sanguíneos (angiogénese).
Estas células podem ser introduzidas directamente na circulação coronária, de modo a terem um efeito maximizado, quando estas artérias não se encontram ocluidas ou com outros problemas associados. Em casos que estas se encontrem danificadas ou com complicações as células são injectadas directamente no músculo cardíaco, em locais de cicatriz ou de miocárdio viável.
As células estaminais embrionárias, outro elemento deste grupo, são pluripotentes. Potencialmente podem dar origem a qualquer tipo de célula envolvida na regeneração do miocárdio danificado com as suas propriedades estruturais e funcionais conservadas. No entanto, existem várias limitações ao sucesso desta técnica nomeadamente os problemas éticos associados ao acesso aos embriões e suas células. Após essa permissão tem ainda que ser submetidas a vários testes e a um rigoroso processo de purificação. A pluripotência destas células pode ser um inconveniente se a amostra não se encontrar totalmente purificada. A presença de células estaminais indiferenciadas pode dar origem a tumores. No entanto estes métodos de purificação ainda não se encontram totalmente aperfeiçoados.
A estabilidade a longo termo das células é outro ponto a ter em conta quando se fala do seu uso na regeneração de tecidos, pois a probabilidade de estas degenerarem em tumores é uma realidade.
Os mioblastos esqueléticos são os progenitores das células musculares esqueléticas. Apresentam um elevado potencial de proliferação em células da linha miogénica e comprovada resistência à isquémia, o que aumentou o seu uso como reparação cardíaca. Substituem as zonas fibróticas aumentando a função global do músculo.
Também se verificou a formação de novos cardiomiócitos, endotélio vascular e células musculares lisas a partir de células derivadas da medula óssea adulta. Dentro deste grupo são de destacar as células estaminais hematopoiéticas, células progenitoras de endotélio e células estaminais do mesênquima. Os estudos actuais tme visado o uso em conjunto destes 3 tipos de células com resultados encorajadores.
As células estaminais do mesênquima são precursoras de tecidos não hematopoiéticas (musculo, osso, tendões, ligamentos, tecido adiposo e fibroblastos). Estas células são de fácil manuseamento e exibem reduzida resposta imune podendo ser diferenciadas em miócitos e células do endotélio vascular.
Também no próprio coração se verifica a existência de células estaminais endógenas com capacidades de reparação local em menor escala. São produzidas em pequenas quantidades pelo coração humano. Também podem ser injectadas como método terapêutico melhorando a função cardíaca.
As células progenitoras do endotélio são células derivadas da medula óssea. Em situação de isquémia são chamadas ao local levando à proliferação de novos vasos sanguíneos e promovendo um aumento de vascularização local prevenindo a apoptose dos cardiomiócitos. Estas células podem também ser injectadas no miocárdio isquémico de modo a diminuir a disfunção cardíaca.
Existem outras populações de células que podem ser usadas como tratamento como as células estaminais do cordão umbilical que contêm grandes populações de células estaminais hematopoiéticas e células precursoras de mesênquima formando novos vasos na zona enfartada ou os fibroblastos (células responsáveis pela síntese da matriz extracelular do tecido conjuntivo) que promovem a substituição do tecido fibrótico por um tecido mais elástico travando a degradação da matriz extracelular.
No entanto, estas técnicas necessitam um maior aprofundamento tanto na preparação das células como nos métodos de administração para suportar uma prática clínica, mais precisamente a segurança dos métodos e a identificação do trajecto das mesmas até ao local em que o seu efeito é desejado. Complicações como arritmias têm sido reportadas. Também se tem verificado uma “fuga” destas células dos órgãos alvo para outros destinos como pulmões, rins e fígado podendo ou não originar efeitos secundários indesejáveis.
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