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Numa Viagem de Episódios Dicazes - II
(Phedon)

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Numa Viagem de Episódios Dicazes - II
Ofuscados por três grandes e poderosos raios, em Portugal, somos cativos do domínio da “rosa”. Maldito sol. E que cor esta que ele hoje tinha. Tão esquisita. Muito estranha mesmo.
Onde
estaria aquele sol radiante, meio amarelo, meio alaranjado, com uns
raios fortes, vigorosos, mas que emanavam, ao mesmo tempo, uma
tranquilidade sublime, um rejuvenescimento constante, uma confiança
avassaladora. Isto sim é que era um sol. Ele abraçava as pessoas com os
seus poderosos raios, soltando um calor forte, tranquilizante e
familiar, para o belo prazer de todos aqueles que o admiravam como peça
fundamental daquela praia.
Mas
Tiago notava que os tempos eram de franca mudança. Depois de longos
dias de clara satisfação que este sol alaranjado tinha dado aos
veraneantes durante longos domingos, os seus dias tinham chegado ao
fim. A praia tinha mudado. Durante muitos e muitos domingos, aquele sol
alaranjado tinha habituado as pessoas que frequentavam aquela praia a
determinadas condições. Ora lhes dava, pela manhã, um sol radiante,
para dissipar toda a neblina que se tinha abatido sobre a praia; ora
lhes dava um calor mais forte para lhes aquecer a água do mar, para
assim poderem desfrutar melhor de uns bons mergulhos; ou lhes
proporcionava um belo fim de tarde com um sol, que embora fosse mais
ténue, era também mais prolongado. Com tantos cuidados e com tantas
preocupações, os veraneantes foram-se tornando cada vez mais exigentes
e mais conscientes.
Mas,
um dia, este sol alaranjado sentiu-se um pouco exausto de tanto agradar
e, num ameno domingo, deixou-se dormitar por breves minutos. Erro
colossal. Momento inoportuno. Os veraneantes não gostaram e, de tão
aborrecidos, não o perdoaram. O sol triste deixou-se abater. E
abateu-se cada vez mais, até que explosões e mais explosões o
transfiguraram e o privaram dos seus audazes raios.
Para o seu preciso lugar, emergiu o sol camaleónico que agora toma conta desta praia.
E
é óbvio que, sem um bom sol, não se vai à praia para ficar mais bonito.
Sem um bom sol, não se apanha um atractivo bronzeado. Sem um bom sol,
não se molham os pés na fresca água com grande agrado. Sem um bom sol,
nada disto se faz, pois o medo e a apreensão apoderam-se dos
veraneantes e, aquilo que se pretendia que fosse um bom domingo, um dia
aprazível e bem vivido, de nada servirá para aliviar o frenesim
constante de que se está impregnado da semana que passou.
De
nada servirá porque o sol deste domingo estava tão forte que as pessoas
tinham medo de se expor, de relaxar, de confiar, porque nas peles mais
finas, com bronzeadores menos eficazes, ou no adormecimento de mais uns
minutos ao sol, a vida de uma pessoa podia mudar para sempre. Ao mínimo
erro, na mais pequena distracção, uma pessoa habilitar-se-ia a ter de
mudar os hábitos que sempre teve, para passar a ter uma vida de
cárcere. Cárcere de si próprio, de uma doença contraída pelo seu
facilitismo, na imagem da irresponsabilidade de um sol falso, de um sol
camaleão, mais diferente que nunca, mais forte que nunca e,
seguramente, mais poderoso que nunca. Poderoso porque com três grandes
raios, igualados a gigantes, transmitiam uma energia e uma força brutal
a todos os outros raios em seu redor, tendo os veraneantes que estar
sujeitos às mudanças de sítio, de estado e de cor daquela grande bola
de massa incandescente.
Estranho
mesmo, apercebeu-se Tiago, eram as diferentes cores que o sol ia
tomando. Elas iam variando. Talvez devido a uma maior ou menor
intensidade calorífica, derivado das explosões inconstantes a que ele
estaria sujeito, mas o facto é que a rotação de cores era permanente.
Porém não variava muito. As cores eram quase sempre as mesmas. Ora se
misturava uma cor vermelha, muito ténue, muito fraquinha, quase
deslavada, com um vivo cor-de-rosa; ora se misturava o cor-de-rosa com
o azul do céu. Porém, às vezes, aquele malicioso sol, ganhava uma cor,
tão estranha aos olhos do Tiago, que ele até não a sabia identificar
bem. Na verdade, talvez aquela cor ainda não existisse, ainda não
tivesse sido criada.
Pelo
menos aquele sol tinha criado uma coisa, uma nova cor no vasto universo
de cromas já existente. Tiago só não sabia se aquilo era bom ou mau.
Mas seria certamente nefasto, pois não seria pela tonalidade diferente
que o sol seria melhor. A intensidade era igual; o calor era igualmente
forte; e as pessoas não se sentiam seguras, confiantes e à vontade.
Porém, esta era a visão do Tiago, e a leitura que Tiago fazia das
expressões e dos comportamentos das pessoas que tinha defronte a si.
Porém,
a seu tempo, viremos a saber o que as pessoas que estavam naquela praia
achariam daquele perigoso sol. E quando chegar o final deste dia de
domingo, logo saberemos se elas são tristes ou ledas com toda esta
situação, e se voltarão ou não no domingo. No domingo da semana
seguinte.



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