O rei Lear
(Shakespeare)
Uma obra clássica pode assim ser chamada quando transcende os tempos, seus componentes morais, e a sua capacidade de apresentar as paixões humanas. Um clássico é uma obra artística superior, definitiva, cujas características apresentam uma beleza própria. As paixões humanas são intensas, originais e complexas para o seu tempo. Assim, as tragédias se firmaram como obras clássicas. A tragédia era a maneira de o escritor expor tramas e fatos importantes, ações de felicidade e infelicidade. Geralmente a tragédia era escrita em versos. O aspecto cênico, bem como as intensidades de ações , eram pontos importantes, descritos com muitos detalhes. As peças de Shakespeare retratam vários tipos humanos (rei, filhas, bobo da corte, duques, cavaleiros), ou seja, pessoas com as mais variadas situações existenciais e diferentes classes sociais.
Seus personagens são marcantes, individuais, de caráter universal. Alguns deles nem mesmo possuem um nome, são chamados, pela posição que ocupam, como cavaleiro, o bobo, o médico. Ao lermos O rei Lear, de Shakespeare, observamos problemas próprios da natureza humana (amor, sofrimento, egoísmo, conflito de gerações, impaciência, bondade e outros) o que torna a peça universal e atual e uma obra clássica. Na peça O rei Lear, Shakespeare retrata uma família como representante maior do núcleo social. Esta família era composta por um pai, Lear e suas três filhas: Gonoril, Regana e Cordélia. O rei, achando-se velho para todos os encargos, problemas e tarefas de sua posição, decide dividir seu reino e suas posses entre suas filhas. Desenrola-se a partir daí, toda a sorte de desentendimentos, brigas, conflitos e tragédias da família. O suposto amor filial é desmascarado frente ao desejo do poder, do dinheiro, da ambição. Salva-se só a filha do rei, Cordélia, que pela sua sinceridade e amor ao pai, ao dizer-lhe a verdade de seus sentimentos, é renegada por Lear. Observa-se a velhice, proposta por Shakespeare, como sendo um momento da vida em que o homem passa a se julgar incapaz, carente afetivamente do amor de suas filhas (precisa que elas declarem amor incondicional a ele). A velhice de Lear é realçada a todo o momento pelas suas filhas ,que passam a considerá-lo senil, incapaz, louco. A maior tragédia no caso é a velhice, sempre vista de maneira degradante. A tragédia de Lear nos faz ver que não podemos prever o que vai nos acontecer, não podemos decidir sobre as contingências de nossa vida, apenas podemos lutar contra elas. Lear não havia se preparado para a velhice. Amava demais suas filhas e este amor o cegou. O amor venceu a razão e , desta maneira, isolado, não consegue sair das trevas e buscar o sol. Lear não teve esta consciência, esta capacidade de reagir ao jogo de interesses que se estabeleceu ao seu redor. Turbulento, passional, apaixonado e autoritário, o rei não procurou conhecer seu eu verdadeiro, não buscou dentro de si o ser essencial que é. Muito tarde percebe que havia errado. A figura do bobo é de fundamental importância na peça, pois é ela que vai se afirma como o alter-ego de Lear. O rei sofre alterações interiores, quando capta a realidade e percebe o quanto havia errado e o quanto estava cego diante da realidade da vida. Ele apenas havia visto o que queria ver - suas filhas como as filhas ideais, nas quais podia confiar, não prestando atenção aos conselhos do bobo. O homem velho, adquire a temperança, o equilíbrio, com a idade. Em Lear no entanto,não notamos este equilíbrio da idade, ele deixa se envolver pelo amor filial e familiar e assim se torna prisioneiro de seus próprios atos. Ao dividir seu reino, sente a ingratidão das filhas a sensação de ser um velho inútil, sem dinheiro e poder. A solidão de Lear se apóia no drama da velhice e na luta das gerações. O sentido da condição humana do ser velho, é mostrado em toda sua dramaticidade, quando Lear fala à filha. Shakespeare, diante das sucessivas menções a velhice, em sua peça O rei Lear, nos questiona filosoficamente: Qual o sentido da vida? Seria o caminho da velhice, tão penoso quanto o autor parece nos indicar? À medida que Shakespeare nos coloca todos os problemas que enfrentaremos na velhice, começamos a pensar em nossa vida. A velhice, desrespeitada pelos filhos, colocada como senil, como causadora da perda da razão humana, perdura até nossos dias. Os tempos mudam, mas a humanidade continua a mesma, daí a grande lucidez de Shakespeare que chama nossa atenção para nossas atitudes, nossa vida futura. Uma das alternativas para superar a velhice é ser sábio. Os conselhos do Bobo sempre são dignos de uma grande sabedoria. Percebemos que Shakespeare se tornou imortal nas suas obras porque relatou problemas inerentes ao ser humano e por isso tão atuais.
Foi além do seu tempo porque retratou o homem com seus defeitos, suas ambições, seus sofrimentos. Esta sua característica era contrária aos ideais da Idade Média que via o homem como um indivíduo definido pela natureza e por Deus. Escreveu sobre os desencontros da vida, que vai do riso a dor, da alegria a tristeza, do amor que ele não havia enxergado, do poder. A tempestade final da peça parece retratar a tempestade interior de Lear. Shakespeare consegue colocar na peça loucura, cegueira, ambição, ciúme, perversidade, amor, transformando a história num drama universal.
Resumos Relacionados
- King Lear
- Rei Lear
- King Lear
- King Lear
- Rei Lear
|
|