DIÁRIO DE UMA EMERGENTE ENDINHEIRADA
(José Paulo de Andrade Filho)
Hoje eu acordei feliz. Dei um beijo na lua, nova, claro, que se escondia de si mesma para não beijar o dia. Depois de um banho inimaginável, regado a sais de banhos e pétalas de rosas rubras, vesti minha calça de cetim e minha blusa de seda vermelha. Tomei meu café amargo, do jeito que gosto, como se fosse um elixir de longa vida - sendo que a única vida que perduraria seria, apenas, a do meu cérebro em polvorosa com tanta cafeína durante aquelas longas horas que se seguiriam. Acabei sentando um pouco à beira da cama espiando minhas sandálias betusas encostadas ao canto (um pequeno mimo que me faço quando não consigo escolher - o problema é sempre esse, nunca sei qual usar. Bah!). Olhos revirados quais amêndoas em êxtase, faço um "mamãe mandou pegar essa da... quiii... d...a... quiiii.... daaaaa... quiiiiiiiii...... (ai, chega!)...", vai essa daqui mesmo e pronto! E você não me acredita, uma rosa chá, com um penduricalho que mais parecia um rosário de Ave Marias sem fim. - "de onde será que tirei essas coisas?!"
Depois de vestida, olhando pra mim através daquele espelho retangular belíssimo e que me deixa com curvas de princesa do mediterrâneo, tremendamente esplendorosa e com um ar tão gracioso quanto os ventos que sopram do leste, arrumei meu cabelo e me deixei conduzir por aquela sensação de quase divina (olha a Cleópatra surgindo rasante em mim). Completamente maquiada, perfumada e delicada naquela roupa gostosa, dirigi-me ao trabalho.O único detalhe de ser uma mulher moderna é que a gente sempre se preocupa demais com detalhes... não é que eu esqueci de por meu anel da sorte? Sabe... eu comprei esse anel uma vez que estive em Londres. Todo mundo falava que a Harold''''s é maravilhosa, que vende umas das jóias mais caras do mundo. Então, eu como sou uma pessoa "chick" e dinheiro nunca me foi problema, fui correndo louca lá pra dentro.
Mas, o que mais me preocupava era como me comportar. Ah, sei lá, né?, sempre batalhei minha vida inteira, sempre fui uma mulher independente, nunca fui de frescuras, meu negócio é: "gostei, quanto custa? Embala!" Tem horas que me sinto a própria "Senhora do Destino". Mas, naquele momento, era eu ou o destino, vai saber... de repente alguém cisma com minha cara e meu dinheiro não ia servir pra nada. Podia acabar filmada e presa como uma: "Whi-dona Hide" da vida... vocês me entenderam? Como eu sou... Bem. Uma mulher veio falar comigo. Mas... ela era tão branca, mas, tão branca, que pensei ficar cega na frente dela. Os olhos pareciam duas peças de céu pendurados na cara dela... e magra! Nossa, como ela era magra, pensei que se apertasse a mão dela eu quebraria os poucos ossos que ela tinha. Ela, com aquela elegância britânica, perguntou: "May I help you Madam?" Geeente, o jeito d''''ela falar era tão engraçado que comecei a rir sozinha, perdida no meio de tanto brilhante. "Yeish" - eu falei. É que meu sotaque é carioca, então, meu inglês fica uma coisa meio aportuguesada, se é que vocês me entendem. "I want to buy a Jewel". Nem eu acreditei que meu inglês estava tão bem até aquele momento.
De repente ela se vira e pede para que eu a acompanhe. Quando olhei pra mão dela, vi uma coisa reluzente refletindo uma luz branca, quase fiquei cega de verdade. Depois que voltei das trevas temporárias (isso não me é estranho) reparei melhor e ela tinha, no dedo anelar esquerdo, um anel com um Rubi maravilhoso... não me perguntem... eu não sei responder, aliás, não sei descrever essas coisas. Só sei que sou assim, "olhei, gostei, eu quero!" A coitada da mulher começou a me mostrar um monte de coisas: brincos, colares, pulseiras, acessórios para lenços, prendedores de cabelo, tiaras... e eu ali, num fogo queimando por dentro, louca pra tirar aquele anel da mão daquela magrela e levar comigo. Eu sou ouvi quando ela perguntou: "Did you like any of these, madam?" Ai meu Deus... eu só entendi o "like", o resto não quis nem saber, já fui
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