Tempo De Matar
(John Grisham)
Certo dia assisti a um julgamento terrível no qual uma menina testemunhava contra o homem que a havia violentado brutalmente. Foi uma experiência avassaladora para mim e eu era apenas um espectador. Num momento, ela era toda coragem, no outro, dolorosamente frágil. Fiquei estupefato. Não podia sequer imaginar o pesadelo pelo qual a menina e a família tinham passado. Pensei no que faria se fosse minha filha. Enquanto eu a via sofrer em frente do júri, tive vontade de matar o violador. Por um breve, mas interminável momento, desejei ser seu pai. Eu queria justiça. Havia uma história em tudo aquilo. Fiquei obcecado com a ideia de vingança do pai. Que faria um júri de cidadãos comuns com um pai que tivesse feito justiça por suas próprias mãos? Naturalmente vê-lo-iam com muita simpatia, mas o suficiente para uma absolvição? A ideia deste livro ganhou corpo num período de mais de três meses, durante os quais quase não pensei noutra coisa. Escrevi o primeiro capítulo à mão num bloco vulgar e pedi a Renée, minha mulher, que o lesse. Ela ficou impressionada e disse que gostaria de ler o segundo capítulo. Um mês depois, entreguei-lhe os capítulos dois e três e ela ficou completamente encantada. Renée lê cinco ou seis livros por semana - mistério, suspense, terror, espionagem, todo o tipo de ficção - e não tem paciência para uma história que não funciona como deveria. Encarei o trabalho como um passatempo, uma hora aqui, uma hora ali, e impondo-me vagamente a disciplina de pelo menos uma página por dia, nunca o abandonei. Lembro-me de um período de quatro semanas em que nada foi escrito. Ocasionalmente, saltava um dia, mas de um modo geral prosseguia com teimosa diligência. Na minha opinião, a história era maravilhosa, mas tinha dúvidas quanto à minha capacidade em escrevê-la. Renée gostou e eu continuei. Ao cabo de um ano, admirei-me da rapidez com que a pilha de páginas aumentava e percebi que tinha chegado ao meio do livro. O objectivo original foi esquecido e surpreendi-me a pensar em contratos de publicação, royalties, almoços elegantes com agentes e editores - os sonhos de todo o escritor não-publicado. Três anos depois de ter começado a escrever, Renée leu o último capítulo e mandámo-los para Nova York. O título provisório era Deathknell, uma péssima ideia que foi abandonada assim que o manuscrito aterrou no escritório do meu novo agente, Jay Garon. Jay tinha lido os três primeiros capítulos e imediatamente me enviou um contrato de representação. Dezasseis outros agentes tinham recusado, bem como uma dezena de editores. Jay aceitou o manuscrito e disse-me que começasse a escrever outro livro. Segui o conselho dele. Passou um ano e nada aconteceu. Eu estava a meio do meu segundo livro, A firma, quando Jay telefonou, em Abril de 1988, com a notícia maravilhosa de que o meu livro ia ser publicado. Bill Thompson, da Wynwood Press, lera os originais e comprara-os imediatamente. Sob a sua orientação, fiz diversas revisões e encontrei um novo título, Tempo de matar. Acho que foi o sexto ou sétimo que escolhi. Não sou bom em títulos. Wynwood imprimiu 5 mil exemplares e publicou o livro em Junho de 1989. Vendeu-se bem num raio de 200 quilômetros da minha cidade, mas foi ignorado pelo resto do mundo. Não houve negociação para a publicação em livro de bolso, nem requisição de direitos no exterior. Mas era um primeiro livro e o primeiro livro geralmente é ignorado. Coisas melhores estão para vir. Terminei A firma em 1989 e mandei-a Jay. A Doubleday/Dell comprou-o e quando foi publicado em capa dura, em Março de 1991, a minha carreira de escritor deu uma guinada especta cular. O sucesso de A firma despertou novo interesse por Tempo de matar. Trata-se de um livro bastante autobiográfico. Eu deixei de fazer advocacia, mas durante dez anos exerci-a muito à maneira de Jake Brigance. Representava indivíduos, e não instituições financeiras, companhias de segurosou grandes firmas. Eu era um advogado das ruas. Jake e eu temos a mesma idade. A minha posição era a de defesa nos tempos de colégio, embora eu não jogasse muito bem. Muitas das coisas que ele faz e diz são exactamente o que eu acho que faria e diria nas mesmas circunstâncias. Nós dois temos automóveis da mesma marca. Ambos sentimos a pressão insuportável do tribunal criminal, uma coisa que procuro captar no livro. Ambos perdemos o sono por causa de clientes e vomitamos nas casa-de-banho do tribunal. Este livro saiu do coração. É um primeiro livro e às vezes perde-se em digressões, mas eu não mudaria uma palavra, se me pedissem.
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