O olho mágico
(Ricardo)
O drama humano angustia e, muitas vezes, nos abandona desesperan?ados. Existem mais tristezas do que a alma pode suportar. Sequer sei se conseguirei narrar este conto. Ele contem os ingredientes de um drama cruel. Aceitei a incumb?ncia de relatar alguns detalhes desta trag?dia, porque Carla me pediu e nutro um ing?nuo e tolo desejo de evitar desfechos t?o tristes. Como escritor, sofrerei mais do que voc?, parceiro de fic??o. Conheci Ivan quando experimentava minha doce inf?ncia. Nossos verdes anos, contudo, passaram r?pido. Nem percebemos quando desafinamos a voz, passamos a suar debaixo dos bra?os e a ter polu??o noturna. De repente nos vimos adolescentes. Prestei aten??o ao Ivan ainda em nosso primeiro dia na escola. Ele desceu do ?nibus trazido pela m?o da m?e, mas aparentava perfeito dom?nio do mundo. Enquanto eu tremia na hora em que mam?e me empurrava pelas portas do enorme pr?dio que dava para o espantoso p?tio, Ivan, de cal?as curtas azuis e camiseta amarela, palmilhava o novo habitat como um lobo. L?pido, corria como se freq?entasse aquele mundo h? anos. Ficamos amigos. Ele sempre falou manso, baixinho e em ritmo lento; seus gestos acompanhavam a melodia da voz. Mesmo assim, sua alma o denunciava; o frenesi nos olhos de Ivan n?o deixava esconder que era irrequieto. Nas duas primeiras semanas de aula, Ivan j? encarava a professora. Antes das primeiras f?rias, foi chamado ? diretoria por encabe?ar um vandalismo que destruiu tr?s bebedores. Ivan era nossa inspira??o; comandava os grandes arruaceiros da escola e do bairro, mas sabia manter-se an?nimo. Escapava de ser flagrado e outros, invariavelmente, pagavam por suas transgress?es. Eu o invejava. Ivan se sentia seguro mesmo na puberdade. Ao contr?rio de todos n?s, n?o se perturbava com o tamanho do p?nis ou com a escassez de p?los no rosto. Eu queria ter m?sculos iguais ao dele, seu caminhar me maravilhava. Nossa amizade se consolidou e formamos um time, na verdade uma gangue com Tobias, que ganhou o apelido de Tangerina; Marcelo, o Fiapo de Cobra; e Francisco, o Chic?o. O pacto do nosso grupo era simples. Juramos nos defender, n?o estragar o namoro do colega e jamais delatar o outro.
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