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"Ó sino da minha aldeia"
(Fernando Pessoa)

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Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
  Fernando Pessoa, "Cancioneiro"
1] A diferença entre um sino que toque dentro ou fora da alma pode resumir-se à forma como a badalada do sino é sentida pelo sujeito poético ou aquilo que representa. Assim sendo, a badalada toca dentro da alma do poeta porque é visível que a é sentida emocionalmente por ele, já que desperta aflição e melancolia devido à passagem dolorosa do tempo.  

2] A construção omite o adjectivo “lento” mas subentende-se. O valor bastante expressivo deve-se à comparação entre o soar do sino e a caracterização da vida, ou seja, são ambos lentos, o que pode indicar que o tempo custa a passar, representando, assim, nostalgia, tristeza e melancolia.  

3] Cada nova badalada faz relembrar o passado e a saudade cada vez mais próxima, o que, obviamente, representa recordações. Também, pode-se dizer que a badalada demora tanto a passar que a primeira pancada, da vez seguinte, parece uma repetição, em vez de uma nova. Tal coisa só é possível se for sentida pelo sujeito poético e, assim sendo, tem que ver com o facto de o sino soar dentro da alma do poeta.  

4] Errante significa alguém que vagueia sem rumo ou sem sentido. Neste caso, o poeta considera-se errante pois vive numa constante procura do “eu”, sofrendo assim de solidão e ansiedade, que deixa transparecer o inconformismo e a incapacidade de se encontrar e aceitar algo, sendo feliz.  

5] Os “me” na terceira quadra personalizam o sentimento e demonstram que o poeta se identifica com o sujeito poético, já que se sente afectado pelo sino e pelo tempo. Esta ideia reforça a já mencionada “teoria” de que o sino toca dentro, e não fora, da alma do poeta.  

6] O tempo encontra-se fragmentado, já que o passado não existe mais e o poeta não foi capaz de aproveitar esse tempo (não foi capaz de sentir e ser feliz). Assim sendo, surge a nostalgia da infância que está cada vez mais próxima, enquanto o passado deixa de ser sentido.  

7] A cidade e a aldeia são, sem dúvida, atmosferas com contextos bem diferentes. Na cidade, muitas vezes, nem sequer há oportunidade de ouvir um sino e de lhe dar importância. Por sua vez, na aldeia, o soar do sino tem outro significado, já que representa com maior rigor a dedicação e um conceito de fé e crença, enraizado em hábitos. Esse significado é fomentado pela tranquilidade existente nas aldeias, tal como consta no poema, através da “calma” (vv.2), do soar “lento” (vv.5) e “vibrante” (vv.14) do sino que parece “sonho” (vv.11) e “distante” (vv.12), naquele “céu aberto” (vv.16).



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