Dom Casmurro
(Machado de Assis)
DOM CASMURRO AUTOR: Machado de Assis
Se nada mais escrevesse, somente Dom Casmurro haveria de imortalizar Machado de Assis. Pois que, muito mais que um romance, ele criou a dúvida. E, a partir da dúvida, inúmeras gerações se perguntaram (e até hoje se perguntam) em círculos às vezes pequenos, às vezes em grandes auditórios, se Capitu teria traído (ou não) o pobre Bentinho. E a própria Capitu (aquela, de olhos de ressaca, oblíquos e dissimulados) transcendeu a suspeita e ascendeu às mais altas esferas do pensamento humano. Numa comparação profana, a Capitu de Machado de Assis tem uma semelhança inevitável com Madalena: se Madalena era (ou não era) "mulher de vida fácil", nenhum valor teve diante do amor de Cristo: Jesus amou Madalena. Da mesma forma, a provinciana Capitu: muito mais importante que a infidelidade (se infidelidade existiu) foi a paixão que despertou no imaginário popular: homens e mulheres (leitores de tantas gerações) amaram Capitu, tanto quanto Bentinho, tanto quanto Escobar. E, aqui, a genialidade do autor: conseguiu uma rara unanimidade, ou seja, que nós (mulheres) não a quiséssemos santa, porém (muito menos!) adúltera. Em outras palavras: todas torcemos (há mais de um século) e torcerão todas aquelas que nos sucederem pela redenção de Capitu. Aliás, se a colocássemos na Roma antiga, algum arauto haveria de saudar: Ave, Capitu! Aqueles que vão te ler te saúdam!
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