Anorexia Moral
(Mitle)
Você tem fome de que?
Diante de um banquete onde tudo é ofertado o paradoxo está na perda do apetite. Aos nossos olhos presentifica-se a falta de desejo, a depressão, o desânimo.O discurso de poder ser tudo, pois tudo pode ser comprado, está incorporado em nossa personalidade. E a liberdade ilimitada originária da moralidade afrouxada de grande parte da sociedade atual, se mostra pouco libertadora. Afinal, o que realmente queremos? E a esta pergunta se complementa outra: onde está a prometida felicidade?
Cleopata já ditava a lição: é necessário escolher entre Marco Antônio e Júlio Cézar. Porém a patologia moral vai muito além da dificuldade de escolher os melhores caminhos para se obter a almejada qualidade de vida.
A anorexia moral tem seu cerne na falta de ideologias. Ou em ideologias mais teóricas do que práticas. Certa música já dizia de heróis mortos por overdose. E cabe perguntar: quais heróis foram mortos e que tipo de overdose se mantém tão mortífera?
A palavra alienação me vem a cabeça... ou seria ilusão? Pois os heróis não foram mortos, apenas adormecem, enquanto a orgia da liberdade sem limites se desenrola. Podemos ser o que compramos? Podemos fazer tudo o que queremos? Não cabe aqui impor moralidades, mas discutir sobre ela. Colocar em pauta a discussão ética de se colocar. De lutar por algo que dê valor à vida ao não se resumir em objeto de compra e uso. Afinal, somos uma sociedade que contribui para a objetificação da figura feminina e o agravamento da anorexia e bulimia nervosas.
A reflexão do que nos constitui como seres humanos; a apreensão, articulação e análise daquilo que ilustra nosso valor, tal como as artes, cultura e ciência, poderá fazer com que apuremos nosso juízo crítico. Assim, em meio a um banquete, poderemos escolher entre a maçã ou o pão e vinho e exercer o que nos torna humanos - demasiado humano: o livre arbítrio de nossos desejos.
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