Uma Reflexão sobre a Didática
(José Mário Pires Azanha)
Para que se avalie a dificuldade de exame do tema deste painel Pressupostos da Didática é suficiente considerar separadamente os conceitos envolvidos: o de “pressuposição” e o de “didática”. Cada um deles possui tal multiplicidade de significados que resiste a qualquer simplificação e torna necessariamente insuficientes as considerações que se façam do tema que os enlaça no limite de tempo que temos. Consciente desta limitação, queremos inicialmente explicitar as opções conceituais que fizemos com relação às noções de “pressuposição” e de “didática” para poder esboçar um dos possíveis tratamentos filosóficos do tema. Aqui – como já fizemos há dez anos quando examinados um tema aparentado como o de hoje: Pressupostos do Discurso Pedagógico – queremos apenas mostrar uma linha de investigação educacional que, não obstante potencialmente fecunda, tem sido sistematicamente ignorada pelos pesquisadores brasileiros. Trata-se da explicitação e análise de pressuposições. Comecemos pela própria noção de pressuposição. A gramática lógica desta noção tem sido objeto de uma polêmica na qual se envolveram os principais lógicos contemporâneos. Essa polêmica que já deu oportunidade a que surgissem centenas de artigos nas revistas especializadas, gira em torno das conseqüências lógicas e epistemológicas dos diferentes modos de compreender a noção de pressuposição. Mas, aqui não nos interessa essa polêmica. Queremos apenas explicitar uma das linhas de análise possíveis e que é a adotada por Collingwood no seu trabalho Um ensaio de Metafísica. Nesta obra, o autor, depois de mostrar que a simples formulação de qualquer questão representa comprometimento implícito e nem sempre suspeitado com algumas idéias , para examinar a natureza das pressuposições. Segundo ele, há pressuposições absolutas e relativas. As pressuposições absolutas dizem a respeito a idéias tão fundamentais aos esforços de conhecimento ou da ação que a sua problematização teria um efeito paralisante com relação a esses esforços. Pense-se, como exemplo de pressuposição absoluta , na idéia da possibilidade de aperfeiçoamento humano. A rejeição desta idéia inviabilizaria a ação educativa. A crença nela, a sua admissão, é algo absolutamente inevitável ao educador. Outras pressuposições – as relativas – não teriam esse caráter impositivo e inevitável. Representam apenas comprometimentos evitáveis e por isso mesmo sempre discutíveis, sem que essa discussão inviabilize um esforço de conhecimento ou de ação. Ainda no campo da Educação, teríamos um exemplo de pressuposição relativa na idéia de que a perfectibilidade humana é limitada pelo patrimônio genético dos indivíduos. A aceitação ou não desta idéia não confere um caracter de inconseqüência à ação educativa, apenas modifica a probabilidade de obtenção de determinados resultados. E esta noção de pressuposição relativa que pretendemos utilizar no encaminhamento do tema de hoje. Vamos deixa-la de lado por enquanto e examinemos a outra noção que nos interessa, a de Didática. Na verdade, não se trata de uma simples noção cujo significado possa ser explicitado por uma definição ou exemplificado pela sua utilização em determinados contextos. Qualquer que seja o modo pelo qual nos situemos com relação à Didática, o que se adota é uma concepção desse setor do conhecimento pedagógico. Porém, nós não temos nenhuma concepção original do campo da Didática a oferecer; em primeiro, porque não somos especialistas na área e, em segundo , porque a leitura dos próprios especialistas nos dá a impressão de que a Didática ora é uma variedade do saber psicológico, ora uma variedade do saber sociológico, ora uma variedade do saber político, etc. Esta “crise de identidade” que parece refletida no próprio título deste Simpósio nos tranqüiliza quanto as opções conceituais que fizemos para encaminhamento do assunto.
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