Saudades
(João Carlos Viegas)
O povo brasileiro é refém da saudade relembrando um tempo, um lugar ou alguém. No futebol, temos saudades dos craques do passado, na música; dos compositores do passado; na política, é claro que os políticos do passado eram muito melhores. O brasileiro cultiva tanto a saudade que já conheci um número – pequeno é verdade - de gente sem vergonha que sentia saudades da ex-mulher ou do ex-marido. Em nome dessa obsessão, construiu-se a lenda de que saudade só existe na língua portuguesa como se outros povos não fossem capazes de sentir nostalgia pela falta de algo que não existe mais. É claro que a colonização lusitana nos deu essa ilusão porque os lusos se entregaram a grandes navegações quando – tanto tempo longe da pátria – acentuava esse sentimento nostálgico. Depois, vieram os negros arrancados da África em navios-negreiros onde a lembrança da liberdade que ficou em terra contaminou corpo e alma com o banzo. Um sentimento de tristeza absoluta que fazia a criatura rejeitar alimentos até morrer de inanição e a aneroxia nem era conhecida ainda. E lá vamos nós carregando nossa saudade como uma missão que nos foi incumbida no nada para ser entregue no nunca. Só que – entre o nada e o nunca – surge a Indesejada que nos avisa: “Larga isso e vamos embora.” Então, você, eu, ela, ele.... todos os pronomes pessoais não fazem mais sentido porque ir embora agora significa não precisar mais enumerar recordações. E esse sentimento do qual se viveu refém fica ali para que a missão continue com quem se sentir incumbido de carregar a saudade da gente.Escreva seu resumo aqui..
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