Complemento: uma revista, uma geração, de Maria Zilda Cury (parte I) examina, principalmente, o modo como a revista belorizontina se constituiu como um espaço de reunião e formação de uma geração de intelectuais que mais parte teriam relevância nacional. Em um tempo de retrocesso dos modelos explicativos internacionais (CHARTIER apud CURY), ou, digamos, de crítica às grandes narrativas totalizadoras (LYOTARD), haveria uma busca aos arquivos. Em parte por que estes (afirma Cury a partir das reflexões de Jacques Derrida em Mal do Arquivo) representariam um lugar de passagem entre o público e o privado. O estudo da atuação de intelectuais em periódicos especializados possibilitaria que se investigasse um local de luta em um (ou por um) mundo público. Já para o pesquisador, a exemplo de Cury, significaria um retorno às fontes do saber, tentando destituí-las de seu poder instituído, para fazer falar (os) vazios da história e dos relatos oficiais. Cury destaca que muitos jornais e revistas ainda permanecem intocados pela crítica e teoria literária e o lançar luzes sobre tais produções culturais significaria a possibilidade de rearticular visões sobre diferentes momentos, estabelecer novas cronologias, reestruturar conceitos como influência e origem, evidenciando que o espaço cultural apresenta-se como fronteiras móveis, que podem ser redesenhadas pelo olhar do crítico, pela reflexão teórica sobre os atores colocados em cena pelo trabalho de descoberta e pesquisa (CURY, 2005, p. 190). Ao se voltar para a reflexão teórica e crítica acerca de arquivos e da revista Complemento (1952-1954), Cury destaca que o estudo de periódicos seria relevante tanto para a teoria da literatura quanto para a história literária, e, ainda, para que se delineasse a atuação cultural de escritores e intelectuais. Agentes culturais como Silviano Santiago são flagrados em seus trabalhos iniciais e associado a outros criadores (dramaturgos, poetas, críticos literários, pintores, jornalistas, dançarinos, etc). Esta busca estabelecer relações intelectuais, bem como influências e orientações, não apenas quanto a Silviano Santiago, mas também acerca de Ivan Ângelo, Theotônio dos Santos, entre outros. O estudo com periódicos possibilitaria a re-leitura de textos iniciáticos (da década de 1950), que aliada a entrevistas (na década de 1990) possibilitaria que se iluminasse a trajetória do intelectual e do escritor contemporâneo. Final da parte I - continua Palavras chaves – Maria Zilda Cury, Silviano Santiano, Complemento, Ivan Ângelo, Arquivo, Derrida, Chartier, arquivo, memória cultural, periódicos, mundo público.
[email protected] - Vander Vieira de Resende