Nem só de pão vive o homem
(Robson Fraga)
Parece lugar comum afirmar que cada povo tem o governo que merece tanto quanto dizer que a era do pão e circo está com os dias contatos. Como atribuir culpa a um povo desinformado? Como envidar teses sobre formas dicotômicas onde para cada dono do discurso sempre há uma platéia formada? Faz-se necessária, então uma análise mais profunda. Talvez a resposta para estas indagações esteja na própria primazia arcaica da política do coitado.
Vivemos uma sociedade onde muitas vezes há pão e nenhuma água que facilite a ingestão. Sobrevivemos sobre promessas de mudança, mas continuamos acreditando nos mesmos falastrões. Cobramos ideologias e opiniões firmes, mas não ensinamos a pensar. Cobramos linhas retas, palavras bonitas e combinadas em frases com sentido, mas sequer oferecemos a oportunidade de identificação das letras.
Não ensinamos o povo a ler, mas cobramos que todos os cidadãos conheçam as leis sob penas de prisão. Enjaulamos mortos de fome, mas não apresentamos a eles uma nova forma de saciar sua gula. Cobramos muito obrigado por migalhas oferecidas, mas esquecemos do simples bom dia àquele que vemos no primeiro piscar de pálpebras a luz do sol.
Nos achamos perfeitos, sabedores do mundo e donos da verdade, mas esquecemos que um dia alguém já provou ao mundo que não existe verdade absoluta. Não nos abrimos a conselhos, porque se fossem bons não nos dariam de graça. Não aceitamos subordinação porque a cada dia temos mais certeza de que sabemos mais que outro.
Vivemos a verdade única. Acreditamos em salvadores. Estamos convictos de que basta esperar ajuda que ela vem. Não nos mexemos para mudanças, estamos estáticos à espera de dias melhores. Acreditamos que somos coitados, nos alimentamos de promessas baseadas em análises tortas, mas como alegar inexatidão se não nos damos uma segunda chance.
Estamos tortos andando em caminhos retos. A direção é uma só, mas balançamos demais nas incertezas e na falta de coragem de dar um passo adiante. Não nos mexemos, permanecemos inertes. Apertamos os botões que nos apontam sem perguntar o porquê? Opções não faltam, mas pra que pensar?
Devíamos rever a vida. Folhear o passado e aceitar nossas deficiências. Tentar ouvir o que ficou para traz nos conselhos dos avós. Enxergar com os olhos da alma porque a carne é fraca e falha. Redescobrir caminhos por onde passamos sem nos dá conta das oportunidades que lá estavam.
Enfim, precisamos lembrar a quem dedicamos nossa confiança. Reavaliar se nos foi dado, ou se demos, o peixe ao invés da vara para pescar. Lembrar que para cobrar atitudes firmes é preciso ensinar a pensar. Lógica não se ensina, se ajuda a conseguir com exemplos diversos e soluções diferentes. Política não se faz com pão e circo, se faz com educação, trabalho e renda.
Quando aprendermos a identificar as letras, a concatenar palavras com sentido lógico, a interpretar atitudes e a excluir promessas vis de nosso dia-a-dia, nos tornaremos cidadãos. Quando aprendermos que sem educação nada se constrói, saberemos escolher representantes da sociedade. Quando descobrirmos que não existem salvadores da pátria e que não somos coitados relegados à espera de ajuda, saberemos em quem votar.
Então pra que esperar mais? As eleições estão aí. Temos de arregaçar as mangas, pedir ajuda a quem nos ensine caminhos para análise. Precisamos levantar bandeiras que nos apontem alicerces firmes para o provimento de mudanças reais. Precisamos dizer que não agüentamos mais promessas que queremos atitudes, que queremos educação. Porque só com conhecimento poderemos mudar nossas vidas e alterar o rumo de nosso país.
* Robson Fraga é jornalista.
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