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A Fúria do Dragão Cósmico
(Margaret Wertheim)

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A partir da primeira faísca da criação – até o ponto em que espaço e tempo vieram a existir, nosso universo teve um início. A partir do big-bang, os astrofísicos montaram uma explicação para a formação das galáxias, das estrelas e dos planetas. Paralelamente, descobriram processos pelos quais as estrelas sintetizam a cadeia dos elementos atômicos em seu interior. Se o big-bang deu origem às partículas básicas – os prótons, nêutrons e elétrons –, foram às estrelas que nos deram os átomos de nosso corpo, o carbono, o nitrogênio, o oxigênio e assim por diante. Com a relatividade geral, no entanto, o espaço se torna pela primeira vez uma categoria primária e ativa da realidade. Entretanto, como o espaço é uma membrana moldada pela matéria, quando a distribuição da matéria muda, a paisagem do espaço muda igualmente. Por exemplo, quando uma estrela morre na explosão de uma supernova, a relatividade nos diz que ela emite grandes ondas de gravidade. Mas como a gravidade é “apenas o empenamento do espaço-tempo”, ondas de gravidade são na realidade ondas na membrana do espaço. Os físicos acreditam também que, espalhados por todo o universo, há amplas “cordas” e “lençóis” cósmicos, linhas e planos com milhões de quilômetros de comprimento, concentrando vasto poder gravitacional, que também empenam dinamicamente a estrutura do espaço numa escala intergaláctica. A mais mística das faces dinâmicas do espaço relativístico é o buraco negro. Tornados famosos por Stephen Hawking, os buracos negros são depressões tão profundas na membrana espacial relativística que nada do que neles cai jamais escapa – nem a luz. Dentro de um buraco negro, o espaço está tão profundamente distorcido que tudo que transpõe seu limiar – conhecido como “horizontes de ventos” – é sugado pela goela que está abaixo e eviscerado. Para citar a rude descrição de Hawking: “se você pular num buraco negro vai morrer rasgado e esmagado”. Mas, como a gravidade é antes de tudo apenas um subproduto da forma do espaço, o destino que aguarda quem cai num buraco negro é ser rasgado pelo próprio espaço. Insuportavelmente convulsionado e distorcido, o espaço em torno de um buraco negro se vinga da matéria como um dragão cósmico, engolindo sofregamente tudo que passa perto demais de sua caverna. A goela de um buraco negro tem tamanho poder, que o espaço ali, seria capaz de destroçar uma espaçonave. Foi essa a distância a que chegamos do quadro passivo de Newton – na visão relativística o espaço se tornou verdadeiramente monstruoso. Sendo assim, nos encontramo, portanto, numa situação paradoxal, pois ao mesmo tempo em que somos a primeira cultura na história humana a possuir um mapa detalhado de todo o cosmo físico, estamos, efetivamente, perdidos no espaço. Num espaço homogêneo, o viajante tem infinita liberdade de escolha: pode tomar qualquer direção que queira e mudar de idéia tanto quanto queira. Esse senso de liberdade é um enorme componente da fantasia do espaço exterior. Essa liberdade de movimento aparentemente ilimitada é uma fantasia primordial da cosmologia do final do século XX. Contudo, enquanto no Ocidente estivemos desenvolvendo uma concepção cada vez mais detalhada e aventureira de nosso cosmo físico, negamos a própria idéia de outros planos da realidade, de outros “espaços”, de ser. Ao homogeneizar o espaço e reduzir “lugar” a um formalismo matemático estrito, despojamos nosso universo de significado e lhe retiramos qualquer sentido de direcionalidade intrínseca. O reverso de nossa democracia cosmológica é, portanto, uma anarquia existencial: nenhum lugar sendo especial em relação a qualquer outro, não há lugar algum para visar finalmente – nenhuma meta, nenhum destino, nenhum fim. O princípio cosmológico que outrora nos salvou da sarjeta do universo nos deixou, em última análise, sem ter para onde ir.



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