A Subjetividade Territorial
(Anelise Boschetto)
O pintor como todo o ser humano é dotado de sentimentos, sensações, lembranças, percepções do corpo e do espírito. Por isso constrói em sua mente paisagens cujas formas podem partir-se, fundir-se em outro movimento, outras linhas, cores, enfim compõe sua tela com senso, com gestos e palavras, mensagens, com pedaços de experiências por espaços e lugares marcadamente concretos, sua produção mescla-se com a vida, o sonho, com desejos, com influências do seu meio, da sua cultura ou de outras. Então é através de toda a sua subjetividade, a maneira pela qual ele percebe seu ambiente físico, a afetividade e o valor que nele coloca que irá determinar sua obra. O pintor geralmente se exprime pela representação do mundo visível.
Este artigo não tem a pretensão de discutir os porquês de um artista produzir sua obra ou de onde ele tira suas idéias, mas sim, discutir as relações existenciais entre o homem e seu território como ele o percebe e se inter-relaciona, de acordo com a época em que vive. O artista plástico das primeiras décadas do século XIX será, portanto um personagem simbólico no debate destas questões.
Neste sentido o historiador Valdir Gregory no seu dicionário da Terra explica que o território, suas fronteiras e a população que o compõe são história. A história de um território é a história de movimentos de migrações constantes, de conflitos entre países e/ou favelas, de transformações de espaços e paisagens. Logo políticos, cientistas, geógrafos, historiadores, antropólogos, artistas, concebem o território com múltiplas visões e significados. O homem no geral busca também modificá-lo, impor situações de poder, controle, torná-lo funcional e afetivo economicamente e culturalmente falando.
Pode-se do mesmo modo analisar numa perspectiva sociológica o estudo de Robert Wegner intitulado “A conquista do oeste e a formação da mentalidade capitalista” sob o prisma da territorialidade e percepção de mundo dos aventureiros, tropeiros, bandeirantes que dialoga com a teoria de Weber e Sérgio Buarque sobre uma certa mentalidade a qual conduzia as ações perante o meio e o território.
Do mesmo modo pondo em relevância o exemplo da cidade de São Paulo do início do século XIX cujo território é palco para as peripécias do amigo pintor descrito no começo deste singelo artigo. Esta época é de fato geradora de grandes agitações intelectuais, explosões industriais, confusões suburbanas, nas ruas, movimentações frenéticas de automóveis e pedestres. Na crescente metrópole perambula, além do querido pintor, o poeta, o mendigo, o pequeno burguês, o operário, o verdureiro e a modista. É um momento de novidade, de confusões, impasses, enfim de modernidade. É um processo de grande urbanização, ditada pela produção cafeeira (esta que também modificou o território), adaptação, busca de identidade, paradigmas e modelos. O pintor adora este lugar. Para ele esta cidade é o que há em conceito de beleza estética, imponência, força, contraste e cores (vale lembrar que São Paulo nesta época ainda tinha área verde). Sua percepção esta à flor da pele. Ele se sente em harmonia com a energia que provém do centro e se espalha até as margens.
Assim mediante estas considerações sobre território e a carga de subjetividade lírica e objetividade econômica que dele pode-se extrair chega-se a conclusão de que quando se fala em território muito mais significados possui do que simples especulações geográficas. Porém diversas definições, impressões, análises, estudos e discursos podem ser feitos. É carregado de uma dimensão simbólica, cultural e mítica, composto também com ecossistemas em regeneração ou degradação. Através de uma identidade territorial pode-se perceber formas de controle, organização administrativa, política e social, resg
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