Meninos-soldados
(JohnLendo)
Sempre imaginei que a melhor coisa que uma criança poderia carregar nas mãos seriam livros. Pena que um grande contingente delas, espalhado pelo mundo, carregue armas, isso sem falar nas drogas que é assunto talvez para uma outra crônica. Sim, para espanto de muita gente, crianças na faixa de dez a dezesseis anos fazem parte de vários exércitos e lutam em diferentes regiões do planeta, notadamente na África. Fiz uma ilustração a partir de uma foto que faz parte da matéria “Meninos-soldados”, da revista Super Interessante de setembro de 2007. Enquanto eu desenhava, meu filho e mais dois amigos brincavam de bola no quintal. Deram uma pausa para apreciar o desenho. Acharam “maneiro”. O que mais chamou a atenção deles foi o fuzil AK-47 nas mãos do menino-soldado. Discorreram sobre as características e curiosidades da arma, levados, talvez, pela naturalidade com que elas desfilam pelos games e telinha da TV. Disse a eles que eles tinham muita sorte de viver uma situação bem diferente daquele menino da foto e expliquei de maneira bem simples o drama daquelas crianças. Eles ficaram penalizados, mas rapidamente voltaram à brincadeira. São crianças também, ainda incapazes de absorver toda a crueldade por trás da foto e, consequentemente, da ilustração. Não poderia ser diferente, dado à banalização da vida e da morte veiculada diariamente na mídia. Terão tempo ainda para compreender e se comover com esse drama que não está assim tão distante da nossa realidade. Crianças brasileiras que convivem com traficantes nas favelas do Rio de Janeiro e em outros pontos do Brasil já devem estar bem mais acostumadas com a presença das armas. Algumas até já andam com elas em punho cometendo seus primeiros delitos. Segundo estimativa da ONG britânica Human Rights Watch, algo entre 200.000 e 300.000 crianças participam atualmente de guerras em 21 países em todo o mundo. Apenas na África lutam mais de 100.000 crianças, mas elas também podem ser encontradas no Nepal, nas guerrilhas maoístas ou na Colômbia, envolvidas em guerrilhas de esquerda e grupos paramilitares de direita. Em 2004 a Força de Defesa de Israel prendeu um suicida de 12 anos a caminho de uma missão e o Exército russo pôs rapazes de 14 anos para lutar na Chechênia. Não é difícil transformar crianças em máquinas de guerra. Guerras são confusas. Aldeias são invadidas repentinamente, há pânico, as pessoas fogem. Crianças se perdem de seus pais quase sempre, muitas assistem suas mortes. Quando o número de civis mortos é muito alto, isso é um indício de que há mais órfãos prontos para o recrutamento. Atualmente, civis representam cerca de 90% das vítimas, segundo a revista The Economist. Não se iludam, portanto, com as guerras criadas pelos norte-americanos que mais se parecem batalhas de videogames e com a tão propalada guerra cirúrgica onde mísseis caem a poucos metros de civis sem lhes causar danos. Na prática há cada vez mais crianças disponíveis para recrutamento. Há outro motivo para haver tantas crianças envolvidas em combates armados. Conflitos internos, com o tempo, tendem a exterminar jovens e, graças ao parco controle de natalidade, crianças são muitas em países pobres, ao contrário de homens mais velhos. Crianças tendem a obedecer a adultos sem questioná-los com facilidade, não se preocupam, não têm mulheres ou filhos para quem voltar, por isso, são inconseqüentes em batalha, exatamente o que se busca em guerras civis sanguinárias onde exércitos regulares não lutam. Crianças órfãs ou que se perderam dos pais são bichos acuados. Quando integradas a um grupo armado, sentem-se protegidas. Além de comida, há um ambiente de camaradagem e fidelidade, uma nova família. Crianças envolvem-se emocionalmente. Em Serra Leoa, meninos eram contemplados com uma dieta de pólvora misturada com cocaína para animá-los ao combate e cigarros de maconha para esfriar depois. O tempo de entretenimento era gasto assistindo projeções de Ramboe
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