Resumo de Natureza e Enquadramento Epistemológico da Neuropsicologia (I)

A história é sempre um recurso precioso porque permite perceber o que acontece quando surge uma determinada proposição, seu impacto imediato ou tardio, seu declínio, seu retorno em outro tempo sob condições diferentes, ou a rejeição definitiva pela falta de evidências. A abordagem histórica e epistemológica pode-se fazer a partir de quatro maneiras: da gnosiologia, da psicopatologia, do romantismo e da neurologia. A via da gnosiologia está associada à psicologia clássica e mais conhecida da psicologia. A história por essa via apresenta o estudo do intelecto e da relação entre intelecto e emoção. O grande avanço desta via foi a difusão do método experimental para o estudo do intelecto e das emoções, sua génese e expressão. A grande contribuição foi os estudos de aprendizagem. A segunda via é claramente fisiológica e médica e tem por objectivo compreender e tratar as desordens psicopatológicas do intelecto e das emoções. O grande debate desta via ocorreu em torno das explicações orgânicas e funcionais para as doenças mentais com suas respectivas terapêuticas. A grande contribuição foi a psicoterapia. A terceira via também concentrou os seus esforços no estudo do intelecto e nas emoções, mas marcou a sua contribuição no desenvolvimento de métodos alternativos ao método científico clássico, a saber, os métodos compreensivos ou interpretativos. A grande contribuição foi na relação entre o pesquisador e os seus dados. A quarta via, centrou-se na relação entre distúrbios da fala e lesões cerebrais. A principal contribuição foi o estudo e tratamento da afasia, e o debate sobre localização das funções cerebrais. Hoje esta via está focalizada na relação entre psicologia e biologia e para novas possibilidades da integração entre psicologia experimental e clínica. As quatro vias mencionadas tiveram desenvolvimentos simultâneos, influenciando e opondo-se umas às outras, com pontos de inserção aqui e ali, mas com impactos distintos em períodos distintos. O funcionalismo comportamental e o funcionalismo psicanalítico, representantes das duas primeiras vias alcançaram destaque importante na primeira metade do século XX, sendo que a psicanálise avançou nas décadas seguintes, principalmente nas décadas 70 e 80, graças ao impacto da psicanálise francesa. A terceira via teve seu destaque nos anos 60 deixando conteúdos éticos importantes que hoje sustenta os argumentos básicos da bioética. A quarta via vai incorporar diferentes elementos da primeira via, é sensível aos argumentos da terceira via e irá constituir a mais importante contribuição da Psicologia na segunda metade do século XX , que é a neurocognição. O reconhecimento dos desenvolvimentos simultâneos de debates e avanços psicológicos deve-se muito à insistência numa determinada questão num determinado tempo. Por exemplo Hearnshaw (1987) disse que por mais surpreendente que pareça, a colaboração entre psicologia e medicina só vai ocorrer a partir do século XIX porque ambos os lados apresentam visões diferentes. Entre filósofos, a consciência ou alma, sustentada na razão divina estava acima e fora do mundo material. A loucura devia-se a desequilíbrios do humor ou à intervenção de forças sobrenaturais. Entre os médicos, pouco se sabia acerca da loucura, por isso não sabiam muito como contribuir para o debate dos filósofos. Os estudos históricos são muito marcados pela actualidade e esta época não era excepção.Diógenes de Apolónia (século IV a.C.) parece ter sido o primeiro a oferecer uma explicação unificadora para as funções fisiológicas, psíquicas e cósmicas: “Os homens e os outros seres animados vivem do ar respirando-o e ali estão a sua alma e inteligência…porque se lhe retiramos morre, e sua inteligência se extingue.”

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