Resumo de Natureza e Enquadramento Epistemológico da Neuropsicologia (II)

No entanto, foi Alcmeão um médico que viveu na cidade de Crotona na parte meridional de Itália em torno do século IV a.C., identificado como pertencendo à escola de Pitágoras, que tem sido considerado pelos historiadores como o fundador da psicologia filosófica. Alcmeão identificou dois tipos de vasos no corpo humano – as veias e as artérias, descobriu canais de passagem que ligam os diferentes órgãos ao cérebro, e chamou a atenção para a ligação entre emoções, pensamentos e cérebro. Até então pensamento e emoção estavam, associados ao coração. Na medicina de Hipócrates (460-355 a.C.), o cérebro era considerado a parte mais importante do corpo e a sede de inteligência. Demócrito (470-360 a.C.) localizou o pensamento no cérebro, a ira no coração e o desejo no fígado. Platão (428/7-347 a.C.) no Timeo descreveu a medula como parte importante do corpo. Uma porção de medula era o cérebro e a outra, a medula espinal. Cérebro e medula espinal constituíam a força vital na qual actuava a alma. A parte racional da alma actuava sobre o cérebro e a parte irracional sobre a medula espinal. Aristóteles (384-322 a.C.) recolocou erradamente o coração como centro da vida, da sensação, do movimento e do calor. Ele desconhecia o sistema vascular e ao cérebro foi dado uma função interior do corpo, inclusive com mais trabalho. A última grande contribuição da idade antiga vinha de Galeno (129-200 a.C.), cujas teorias sobre o corpo humano, com acertos e erros, dominam a medicina há catorze séculos. Para ele, os nervos originam-se no cérebro e na medula espinal e não no coração como ensinava Aristóteles. Os nervos seriam condutores que transportariam os fluidos secretados no cérebro e medula espinal para a periferia do corpo. O cérebro seria o centro da sensação, do intelecto e do movimento. Galeno explicava que a sensação era a mudança qualitativa de um órgão sensitivo e a percepção, enquanto acção do cérebro era a consciência dessa percepção. O desenvolvimento da tradição ético-religiosa, como dizia Brett (1953), que se estendeu por toda a Idade Média inibiu os estudos de anatomia. Além disso os bárbaros quando enfraqueceram o Império Romano destruíram uma biblioteca onde se encontravam os estudos gregos sobre medicina, criando um necessidade de pesquisas nessa área. René Descartes (1596-1650) o primeiro filósofo moderno foi também um anatomista. Ele era conhecedor da descrição completa do corpo humano oferecida por Vesálio em 1543, da descoberta da circulação do sangue por Harvey em 1628 e havia aceite o modelo mecânico corrente. Quanto à relação mente-cérebro, ou melhor alma-corpo, Descartes desprezou tanto a noção aristotética de alma como forma do corpo quanto a noção de alma como princípio de vida dos escolásticos. Ele definiu a alma como substância consciente ou pensamento. A alma era diferente do corpo por possuir uma natureza indivisível ao contrário do corpo, que era sempre divisível. Embora diferentes, para Descartes, a alma possuía uma ligação ao corpo através da glândula pineal, um pequeno órgão do cérebro. Esse órgão foi escolhido por ser um dos poucos órgãos não duplicados do cérebro. Descartes, acrescentou também, que a alma e o cérebro eram feitos das mesmas substâncias. No século XVIII os esforços para a explicação da relação mente-cérebro prosseguiram com os trabalhos de David Hartley (1705-1757), de Albrecht von Haller (1707-1777) e do húngaro Porchaska (1749-1820). Hartley recorreu à teoria das vibrações no livro, Principia de Newton, publicado em 1687, para explicar a sensação como um processo físico. Assim, as alterações dos nervos provocadas pela acção de um objecto sobre um organismo constituindo impressões, segundo ele, eram decorrentes de vibrações. Ainda para muita gente, nervos, medula espinal e cérebro eram descritos como homogéneos, ou seja, formados pela mesma substância.

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