Latin Jazz - Parte 1
(John Lester)
No início do século XIX uma boa leva de negros foge da revolução em Santo Domingo (Haiti), refugiando-se em Cuba e, daí, por volta de 1809, boa parcela deles segue para New Orleans, constituindo, assim, a primeira emigração importante de negros para a cidade que seria o berço do jazz. Enquanto isso, em Cuba, os escravos formavam os ‘cabildos’, sociedades de ajuda mútua que muito contribuíram para a preservação da religião, da música e da dança de alguns povos negros oriundos da África central e, principalmente, ocidental, como é o caso dos kongo, arará, carabali e lucumi. O resultado, como se poderia esperar, foi uma profunda influência da tradição musical desses povos africanos na música cubana. É ainda no século XIX que observamos outra importante influência afro-latina fixando-se em New Orleans: a habanera e suas variantes, que ingressavam nos EUA a partir do México, causaram forte impressão na cidade. Foi a febre da então denominada ‘mexican music’. Entre seus principais compositores, responsáveis por uma série de partituras impressas, constam H. Wehrmann, L. Grunewald e Junius Hart (naquela época, vale lembrar, não havia rádio nem gramofone e as pessoas, assim, compravam partituras). Por volta de 1850 a influência latina sobre New Orleans toma corpo: chegam à cidade diversas formas musicais caribenhas, em especial de Cuba, Porto Rico e Venezuela, quase sempre, como dissemos, via México. Enquanto em Cuba nascia a danzón, nos EUA nascia o ragtime e, em New Orleans, o pré-jazz. É nesse período fértil de influências afro-latinas que Gottschalk interpreta e compõe peças sob forte influência da música cubana, além de experimetar os temperos de Porto Rico e da Martinica. Ainda nos últimos 30 anos do século XIX vamos observar diversos movimentos de intercâmbio musical entre os EUA e vários países escravocratas de colonização espanhola, portuguesa e francesa. A famosa família de músicos Tio, retorna a New Orleans após uma longa temporada no México. Na mesma época, o violonista Miguel Arévalo introduz a habanera em Los Angeles. Em 1885, durante a World’s Industrial and Cotton Exposition, em New Orleans, o México é representado por diversos grupos musicais, entre eles a Banda Militar Mexicana del Octavo Regimiento de Caballería, mais conhecida como Mexican Band. O repertório era dominado pela danza cubana e pela habanera. Com a Mexican Band chega Florêncio Ramos, considerado o primeiro saxofonista de New Orleans. Com o sucesso, a banda retornaria à cidade em 1891, dessa vez liderada por Encarnación Payen (ouça aqui http://parlorsongs.com/issues/2004-5/thismonth/feature.asp um interessante arranjo para piano de uma peça típica tocada pela Banda Mexicana). No final do século XIX, com a guerra entre EUA e Espanha, muitos músicos de New Orleans partem para Cuba, acirrando os pontos de contato e as possibilidades de intercâmbio cultural entre os dois países. Caso típico é o do baterista e líder de orquestra Papa Jack Lane (1873-1966) que, influenciado pela esposa cubana, Blanche Nuñez, contrata uma série de músicos cubanos e mexicanos para sua famosa Reliance Brass Band. Embora seja conhecido como ‘o pai do jazz branco’ ou ‘o pai do Dixieland’, Papa nunca gravou.
Resumos Relacionados
- Latin Jazz - Parte 3
- Gunther Schuller - Third Stream
- Mega Memória - O Furacão Katrina
- Latin Jazz - Parte 10
- Cuba Oferece Mudança De Sexo Grátis
|
|