Falando sobre políticas públicas
(Ana Maria Alves Ribas)
Inicialmente, quero agradecer a oportunidade do espaço para abordar temas referentes as políticas sociais, uma área que tenho especial atenção. Dos desafios postos considero mais agravante é a cultura histórica em associar educação, saúde e assistência para atender especialmente os pobres, trabalhando sobre os efeitos colaterais e, não na perspectiva de combater a pobreza e as desigualdades sociais, fazendo com que as políticas sociais caminhem desatreladas das políticas econômicas, que efetivamente ditam as regras e por isso querem as sociais fiquem bem longe dos espaços decisórios, pois combater as desigualdades sociais e a pobreza implica questionar o próprio capitalismo e neoliberalismo.
Quando se naturaliza a pobreza e as desigualdades sociais, as políticas sociais se tornam compensatórias e paliativas, enquanto isso o capitalismo produz mais pobreza, aumenta a reserva de força de trabalho acirrando a exclusão social. Pois na lógica neoliberal o mundo se divide em proprietários e não-proprietários (pobres). Se, os pobres produzem mais pobres pela geração de filhos, o que eles vão fazer num mundo que já pertence a alguém? Este pensar, introduzido por MALTHUS (Séc. XVIII) direcionou a culpa da pobreza aos pobres e até a opressão do capitalismo e se reproduziu para justificar como inevitáveis as desigualdades sociais, a pobreza e a fome no mundo.
Este discurso está presente no imaginário social, quando criticamos que determinada família é pobre porque não pára de ter filhos, mas alguém já parou para questionar: Por que os pobres têm mais filhos, se comparado com as outras classes sociais? Por que os salários dos trabalhadores das classes populares têm que ser baixos? Qual foi a real intenção ao introduzir as políticas de controle da natalidade? Tenho quase certeza que a maioria irá direcionar aos indivíduos, como a falta de instrução, desqualificação profissional, ausência de cultura ou vontade de “crescer”, de trabalhar e outros ainda podem colocar a culpa no sistema de exploração e nos governos, mas o pano de fundo é bem outro, muito mais perverso porque cada pessoa, de uma maneira ou de outra, acaba reproduzindo a perversidade ao expressar idéias e “verdades”, como se fossem de sua autora, que na realidade está fazendo exatamente o que foi forjado para fazer, pois todos somos produtos de uma formação cultural da sociedade, ditada pelos outros. Muitos podem questionar que o homem é protagonista, agente tranformador da sociedade, que a sociedade se modifica pela ação social. Até somos na medida em que nos organizamos em determinadas ações pontuais, mas na maioria das vezes quem continua tecendo não somos nós.
Para encerrar chego a duas importantes conclusões: a primeira, que odeio MALTHUS e a segunda que precisamos todos, em especial a sociedade civil organizada rever o atual olhar sobre as políticas sociais para não serem apenas paliativas, já que a fome não espera. Mas, podemos mais do que ficar eternamente doando cestas básicas, roupas, uniformes, materiais escolares, remédios, pagar consultas etc, que apenas coloca os pobres na dependência imobilizadora. Bastaria a sociedade civil organizada, adentrar nos conselhos municipais de saúde, educação, assistência social, criança e adolescência e outros para enfrentar as causas da pobreza e das desigualdades sociais, introduzindo ações que revertam na redução da pobreza, alinhando as atuais políticas paliativas com a contrapartida dos beneficiários. Se, a sociedade civil organizada soubesse o poder legal investido nos conselhos, as administrações públicas teriam problemas em continuar com as práticas assistencialistas com interesses partidários.
Resumos Relacionados
- As Políticas Sociais São Inseparáveis Dos Objetivos Do Milênio
- Necessidades Humanas. In: Subsídios à Criticas Dos Minimos Sociais
- Políticas Sociais E Suas Conseqüências.
- Neoliberalismo, Textos Coerentes
- Como Vencer A Pobreza E A Desigualdade Social
|
|