Granta em português 1: Os melhores escritores jovens norte-americanos
(Ian Jack editor)
O primeiro número da edição da revista Granta em português (Rio de Janeiro. Editora Objetiva. 2007) é uma tradução da edição da original Granta 97: Best of Young American Novelists 2. Foi publicado no Brasil sob os auspícios do selo Alfaguara, o mesmo que publica a versão da revista em língua espanhola, que também teve sua versão em Granta en español 8: Los Mejores Jóvenes Novelistas Estadounidenses .Os endereços permitem que o leitor conheça a proposta da revista em suas atuais versões e também leia alguns dos textos. Mas pode ser interessante explicitar que a revista Granta mantém a tradição mais do que secular de publicar textos originais de ficção, biografias, reportagens e jornalismo investigativo, com eventuais incursões aos ensaios fotográficos. As edições em espanhol e em português pretendem manter a tradição, além de traduzir textos selecionados da edição em inglês. Ou seja, para um leitor curioso Granta é uma garantia da melhor diversão no sentido mais amplo da palavra: reflexões e emoções, sentimentos e sensações, em seleções criteriosas. No caso desta antologia, a diversão (não se esqueçam: acabamos de combinar do que se trata) já começa pelo título.A lista de vinte e um escritores com idade limitada em 35 anos na época da seleção dos textos, é composta, indiscutivelmente, por escritores jovens, mas a maioria já demonstrou seu talento em obras publicadas e traduzidas para outras línguas. Assim, não encontrariam grandes dificuldades em serem incluídos entre os melhores de sua geração.Apresentada em ordem alfabética dos sobrenomes, a lista começa com Daniel Alarcón, nascido em Lima, no Peru, e criado no sul dos Estados Unidos; e termina com John Wray, que goza de dupla nacionalidade, sendo filho de pai americano e mãe austríaca. E inclui nomes como Anthony Doerr, que nasceu em Cleveland e morou na África, na Nova Zelândia e na Itália; Uzodinma Iweala, nascido em Washington, filho de pais quenianos (conterrâneos, portanto, do pai do presidenciável Barack Obama); Olga Grushin, nascida em Moscou, em 1971, e vivendo nos Estados Unidos desde 1996; Rattawut Lapcharoensap (que poderia muito bem usar, por exemplo, o pseudônimo de Tuwattar Pasneorahcpal, ou qualquer outro anagrama do seu nome original, sem que a maioria das pessoas não habituadas aos nomes de origem asiática desconfiasse), nascido em Chicago e criado com a família em Bancoc antes de voltar sozinho aos Estados Unidos; Yiyun Li, nascida em Pequim, vivendo atualmente na Califórnia; Akhil Sharma, nascido em Délhi, na Índia, mudando-se para os Estados Unidos com oito anos; e Gary Shteyngart, nascido em Leningrado, tendo se mudado para os Estados Unidos com sete anos.Ah! Eu ia me esquecendo de Karen Russell, que vive atualmente em Nova York, mas que nasceu em 1981... Em Miami! (Brincadeira!)Mas há também escritores nascidos e criados no Alabama, em Montana, em Indiana, no Texas... Enfim... Escritores norte-americanos (ou simplesmente americans, na edição original, ou mais precisamente, estadounidenses , como zelosamente indica a edição em espanhol) são, portanto, escritores que têm suas raízes naturais ou culturais nos Estados Unidos.Ma non troppo, como revela a leitura desta autêntica e saborosa salada. Do ponto de vista do leitor mediano, onde eu me incluo (eu já li alguma coisa de Proust, mas também J. K. Rowlings, manuais de instalação de programas da Microsoft© e bulas de remédios. Se bem, que, neste último caso, eu costumo evitar a parte das contra-indicações, já que o gênero horror não é um dos meus favoritos), basta que se goste de histórias bem contadas e imaginação solta. Há experiências cuja leitura pode ser incômoda, como o conto Quarto após quarto, de Jonathan Safran Foer.A maioria dos textos, porém, apresenta uma estrutura convencional e, se bem que isso pode não ser considerado unanimemente como uma vantagem, não vai exigir esforço extra de interpretação por parte do leitor, o que pode garantir a rápida fruição das histórias por seu conteúdo.É possível dar boas gargalhadas com a situação inusitada criada por Karen Russell, em O celeiro ao fim de nosso mandato , mas é óbvio que a história não se resume a isso. Não é surpreendente que uma autora como Yiiun Li trate com extrema delicadeza os sentimentos mais duros em Incêndio doméstico . Nem que Olga Grushin dê um tratamento sombrio ao seu relato de Exílio . Nem mesmo que o texano, e ex-atirador do Corpo de Fuzileiros Navais, Gabe Hudson, em Hard core , narre os atos mais duros brotando de sentimentos inocentes, como quem atira freneticamente com uma metralhadora giratória carregada com balas de paintball.Para mim, a surpresa foi mesmo a imaginação criativa, que sobra em toda parte. Diversão garantida.Pode-se lamentar a ausência, na edição brasileira, de uma pequena nota sobre os tradutores, que realizaram um bom trabalho. Só assim poderíamos ter certeza, por exemplo, de que a Fernanda Abreu que traduziu o ótimo Pessach em Nova Orleans , de Dara Horn, é a garota carioca, cantora e compositora, que eu estou pensando que é.(Obs. O endereço da Editora Objetiva estava quebrado no domingo, quando enviei este comentários, mas funcionava perfeitamente na sexta-feira).
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