Mais que perfeito
(Mariana Sgarioni – Revista Super Interessante)
Você é um perfeccionista? Se for, me desculpe dizer, mas isso não é nada bom. O perfeccionista é inflexível, teimoso, excessivamente preocupado com detalhes e obcecado por trabalho. Na tentativa de entregar a perfeição, não raro ele simplesmente deixa de entregar. Isso tudo acaba inviabilizando a convivência social e profissional porque ninguém quer ter por perto um sujeito cabeça-dura, que não admite sair um milímetro da linha. Médicos e psicólogos têm recebido um número cada vez maior de pacientes portadores desse problema que pode resultar em depressões, vícios, compulsões e até suicídio. A auto-imagem positiva é uma das poucas alegrias dessas pessoas. A maioria delas aprendeu muito cedo que seria reconhecida e avaliada por suas realizações, nunca pelo que elas são. Existem duas categorias opostas de perfeccionistas: os introspectivos, com baixíssima auto-estima, não confiam no que fazem e nunca estão satisfeitos com seus trabalhos, e os extrospectivos, esses com auto-estima elevada mas que não confiam em absolutamente ninguém no trabalho, não delegam nada e exigem que todos sejam perfeitos.
Essas pessoas não buscam ajuda até começar a sofrer perdas na vida, sem saber direito o porquê. Perfeccionistas sempre existiram, mas a vida nunca foi tão difícil para eles. Hoje, a vida social, profissional e afetiva exige muita flexibilidade, quem não é flexível fica para trás e sofre de ansiedade. Para piorar, a era da informação rápida e fácil, mas nem sempre confiável, é o inferno dos perfeccionistas porque os obriga a elevar os próprios padrões de exigência.
Recebi a revista hoje e, hoje mesmo, publiquei este resumo. Pode não ter ficado nenhum primor, mas fico aliviado com a constatação de que, definitivamente, não sou um perfeccionista.
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