Mapa da Tricomaníase
(Jairo de Lima Alves)
Um estudo desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em parceria com o Instituto de Química e o Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mapeou pela primeira vez o proteoma do parasito Trichomonas vaginalis – agente etiológico da tricomoníase, doença sexualmente transmissível que registra 200 milhões de novos casos por ano no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A partir da definição do proteoma, repertório de proteínas expressas pelo microrganismo, os pesquisadores geraram dados inéditos sobre processos biológicos que regulam o ciclo de vida e a patogenicidade do parasito e verificaram a ocorrência de uma forma até então desconhecida do T. vaginalis. A expectativa é que as descobertas possam subsidiar o desenvolvimento de métodos diagnósticos mais eficientes e esquemas terapêuticos alternativos. Os resultados foram publicados na edição de julho da revista Proteomics e em outubro no Journal of mass spectrometry.O passo inicial foi o mapeamento completo do proteoma do T. vaginalis, realizado em parceria pelo IOC, os dois institutos da UFRJ e o Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Cuba. Com base nestas informações, os pesquisadores aplicaram análises proteômicas a diferentes cepas do parasito, cultivadas na presença e na ausência de ferro, metal fundamental à sobrevivência do microrganismo no trato urogenital humano.Durante os experimentos, realizados in vitro, verificou-se que muitas proteínas são expressas somente em meio ferroso, ambiente natural do T. vaginalis – 45 delas já foram identificadas pelos pesquisadores.“Muitas das proteínas que não são sintetizadas pelo T. vaginalis em meio não-ferroso estão envolvidas em vias metabólicas e na dinâmica de seu citoesqueleto, o que pode resultar numa alteração morfológica do parasito, representada pela forma arredondada.Esta variante, conhecida como pseudo-cisto, pode ser uma forma de resistência do parasito a alterações no meio onde ele vive, provocadas por exemplo por estresse nutricional ou por variações hormonais do trato vaginal humano, comuns durante o ciclo menstrual” José Batista explica. Este comportamento do parasito pode comprometer o diagnóstico da tricomoníase, realizado a partir do reconhecimento visual do parasito durante a análise em microscópio do material coletado da cavidade vaginal durante o exame ginecológico. Como a forma arredondada do T. vaginalis foi descoberta apenas agora e o protocolo de diagnóstico da doença é guiado pela verificação das estruturas externas do parasito, a forma mutante produzida em meio carente de ferro pode não ser identificada.“Quando assume a forma de pseudo-cisto, o T. vaginalis pode não ser identificado pelo diagnóstico tradicional da tricomoníase, retardando o tratamento. Por isso, a possibilidade de um novo método para identificação do parasito é especialmente interessante para o Brasil, onde a detecção por meio de cultura – opção prática e eficiente, mas de custo relativamente elevado – ainda não é disponibilizada como rotina” o especialista alerta. “Além disso, os inúmeros relatos de resistência de pacientes ao Metronidazol, droga indicada para o tratamento da tricomoníase humana, apontam a necessidade urgente de se identificar proteínas ou enzimas cruciais para a sobrevivência do parasito que possam ser investigadas como alvos seletivos para novos fármacos”, ressalta.Para investigar as propriedades do pseudo-cisto, os pesquisadores cultivaram a forma mutante em condições ideais, isto é, na presença de ferro, e verificaram que o patógeno é capaz de se reproduzir, gerando as tradicionais formas infectantes. Para esclarecer se o pseudo-cisto caracteriza realmente uma forma infectante do T. vaginalis, porém, são necessárias ainda análises in vivo do patógeno.
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