Síndrome de Diógenes
(Correio Braziliense)
Você lava as mãos seguidamente? Verifica várias vezes se as portas ou as janelas estão trancadas antes de se deitar? Tem nojo do corrimão do ônibus ou da maçaneta da porta do banheiro público? Evita toalha de mão coletiva? Ou sua mania é de guardar entulho em casa? Se você respondeu “sim” a alguma dessas perguntas, o caminho já está meio andado: você pode ter sintomas do chamado transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), demência que atinge 2% da população de todas as classes sociais. O TOC que está na moda provocou uma corrida a consultórios. Chama-se síndrome de Diógenes e foi diagnosticada na espanhola Violeta Martinez Rodriguez, 80 anos. Ela conseguiu acumular toneladas de lixo durante 18 anos num sobrado no Itaim Bibi, Zona Oeste de São Paulo. A psiquiatra Ana Hounie, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), avisa que uma pessoa não precisa guardar tanto bagulho em casa, como Violeta, para ter a síndrome de Diógenes. “Geralmente, o portador dessa síndrome tem muita dificuldade de jogar as coisas fora. Quando recebe um presente, abre com cuidado o embrulho porque acha que o papel será útil algum dia, mesmo que já tenha um monte guardado”, descreve a médica. Antes de mais nada, é preciso saber que a síndrome de Diógenes, assim como outras manias, toques e tiques, não é uma doença. Dependendo de uma avaliação médica, pode ser apenas um sintoma do TOC. “É fácil de entender. A febre, por exemplo, não é uma doença. Ela pode ser um sintoma de várias enfermidades. Assim acontece com as manias e toques. Eles podem ser sintomas de um TOC”, explica Ana. Já o TOC é um transtorno mental. Para os médicos, a síndrome de Diógenes ainda é um mistério. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica o sintoma como colecionismo, que é a falta de capacidade que as pessoas têm em se desfazer de objetos pessoais velhos ou de lixo. “A pessoa sempre acha que aquele objeto fará falta. Seja uma sacola velha, uma garrafa de refrigerante ou uma caixa de papelão. Mas, para diagnosticar a síndrome de Diógenes, a casa da pessoa tem que estar entulhada ou com mau cheiro. Tem gente que deixa de dormir no quarto por causa da quantidade de coisas guardadas nele”, diz Ana. “Quando chega a esse ponto, o ideal é procurar um psiquiatra”, sugere a médica. O grande problema é que o portador de toques e manias nunca procura um médico por vontade própria. “O que poucas pessoas sabem é que, por trás de uma mania simples, pode se esconder uma demência grave, principalmente se o paciente for idoso”, avisa o psiquiatra Paulo Salomão Mendes, da Universidade de Campinas (Unicamp). Nenhum exame médico diagnostica o TOC. Para comprovar a doença, os médicos entrevistam os pacientes. O tratamento consiste em medicamentos e as consultas podem ser feitas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), inclusive com sessões terapêuticas. Vem sendo cada vez mais comum entre os portadores de transtorno obsessivo-compulsivo a chamada dismorfofobia ou transtorno dismórfico corporal. É uma preocupação com um defeito na aparência que existe só na imaginação. “Geralmente os portadores desse transtorno procuram cirurgiões plásticos para corrigir o nariz ou outra parte do corpo. Só que eles nunca estão satisfeitos com a aparência nem depois da operação”, explica a psiquiatra Ana Hounie, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Para a insatisfação com a aparência ser atribuída a um transtorno mental, no entanto, é preciso que o paciente esteja preocupado excessivamente com o suposto defeito. Essa preocupação deverá causar-lhe sofrimento. “As queixas geralmente envolvem falhas imaginadas na face ou na cabeça, tais como perda de cabelos, acne, rugas, cicatrizes”, explica o psiquiatra Romeu Alencar, da Universidade do Rio de Janeiro. Tem gente que deixa de dormir no quarto por causa da quantidade de coisas guardadas nele Ana Hounie, psiquiatra.Veículo: Correio Braziliense Seção: BrasilData: 09/09/2006Estado: DF
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