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A cadeia como você nunca viu – Parte 1
(Fátima Souza e Alexandre Versignassi – matéria de capa da revista Super Interessante – março/2008)

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As 116 prisões do Brasil formam uma nação à parte. Um país com economia própria, movida à extorsão, suborno e comércio ilegal. Um lugar cheio de leis não escritas, impostas pelo crime organizado. Os “corrós”, celas de delegacias para os que acabam de ser presos, é o primeiro estágio da vida na cadeia, o pior deles. É uma espécie de solitária onde deixam os presos de castigo. Geralmente não têm banheiro, nem privada nem torneira. Daí eles passam para celas abarrotadas de presos. Há casos de celas para 20 homens abrigando 120, o que dá 60 cm2 para cada um. Os bandidos mais poderosos costumam ficar em redes bem no alto, próximo às grades, onde é mais arejado, enquanto o resto tenta pegar no sono de joelhos. O meio termo entre a delegacia e o presídio é o centro de detenção provisório. Em Franco da Rocha (SP) o recém-chegado pode ser recepcionado por quatro detentos. Um deles se apresenta como o “piloto” do lugar, anda com quatro celulares e passa o dia dando ordens. Se o novato for mané, primário, piolho tem de pagar para não dormir no banheiro, por exemplo. E não é barato, pode chegar a R$ 120,00 o privilégio de dormir numa parte menos fedorenta da cela, junto com mais vinte e três homens. Nas penitenciarias existe um verdadeiro mercado imobiliário de vagas. As autoridades sabem desse tipo de comércio e afirmam que o único jeito de acabar com ele é por fim à superlotação. Não basta desembolsar dinheiro pelo “imóvel”, é preciso também comprar o único “móvel”, o colchão, algo em torno de R$ 30,00.

Já estamos na era da “cadeia 2.0”, cigarro já não é a única moeda-corrente, agora o dinheiro eletrônico também faz parte. Pelo celular eles passam o número de contas bancárias abertas em nome de parentes ou laranjas, sujeitos que recebem uns trocados para ceder sua conta bancária. Outra novidade que apavora os recém-chegados é o estupro coletivo. Parentes de detentos costumam receber ligações telefônicas forçando-os a depositar quantias em torno de R$ 2.000,00/R$ 3.000,00 em contas para que o recém-chegado não seja molestado sexualmente.

A primeira penitenciária a liberar o sexo entre os presos e as visitantes foi a do Carandiru, em 1986. Dali para frente a permissão se espalhou pelo país. Muitos já viraram pais atrás das grades, outros conheceram a esposa atual dentro da cadeia. As transas são rápidas. Como não há camas para todos os casais, eles têm de se revezar. Nesses dias fica um burburinho danado nos corredores. Num lugar com centenas de homens privados de sexo, a etiqueta no trato da mulher alheia, seja ela esposa, amante, prostituta, mãe, filha, enteada ou o que for, é pra lá de rigorosa. Qualquer quebra pode resultar em morte. O sexo entre presos héteros não é exatamente raro, tanto que existe um eufemismo para travestis nos presídios: “mulheres de cadeia”. A convivência não é suave, elas têm de ficar na ala delas, quem quiser que vá procurá-las. Travestis e gays em geral não podem beber do mesmo copo nem usar pratos e talheres dos outros presos. Essa é mais uma das muitas leis não escritas que regem a vida dos presídios, um código que hoje está mais rígido que nunca. Pela tradição, quem faz cumprir essas leis internas são os chefes da faxina, os presos responsáveis pela limpeza do presídio e pela distribuição de comida. Os “faxinas”, caras de confiança, são eleitos pelos próprios presos e ficam com a tarefa de passar as reclamações dos detentos para a administração da penitenciária. Fazem também o papel de juízes dos presídios. Esse sistema, porém, começou a mudar com a chegada do crime organizado nos presídios, em especial o PCC – Primeiro Comando da Capital que passou a controlar nada menos que 80% dos presídios do Estado de São Paulo.



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