A vida em festa; crescimento emocional
(Dr. Pedro Strecht; composto por mim)
Uma das questões mais importantes do crescimento emocional dos mais novos assenta na existência de ligações afectivas de qualidade das crianças e adolescentes ao meio social envolvente. Realidade interna e realidade externa coabitam numa eterna busca de equilíbrio a que as estruturas de personalidade em formação são especialmente sensíveis. Desajustes entre ambas podem causar impactos sérios em qualquer das partes, e é isso que explica que um meio envolvente desadequado ou patogénico produza uma marca, um traço negativo na construção do equilíbrio psíquico de um rapaz ou de uma rapariga, e que, da mesma forma, certos tipos de sofrimento interno possam produzir sérios impactos no meio exterior, como no caso da marginalidade ou delinquência, em que os jovens agem o seu próprio mal-estar interior contra quem os cerca.Dessa maneira, a existência de boas ligações afectivas a determinado meio social e cultural promove um sentimento de identidade e pertença dos mais novos, que com ele passam a interagir mais adequadamente. São essas mesmas ligações que também criam uma identidade social que permite a existência de mecanismos de identificação a pessoas e valores.Hoje, a ausência de boas referências sociais de muitas crianças e adolescentes cria mecanismos que potenciam a desintegração da personalidade e uma relação com o meio exterior de contornos negativos, hostis e agressivos. Por exemplo, os jovens que agridem o que os cerca, vandalizando, destruindo ou atacando pessoas e bens, são quase sempre rapazes ou raparigas sem uma integração de qualidade, pobres de referências sociais e culturais. É esse um dos problemas das populações de grandes bairros de realojamento que, em políticas anteriores, chegaram nalguns pontos a ser colocadas no mesmo local, vindas de zonas completamente diversas, com culturas e registos que não só eram absolutamente distintos como pouco pacíficos de coabitação: veja-se o exemplo do tristemente célebre Bairro da Belavista, em Setúbal, ou o de Casal de Cambra, em Sintra, hoje em dia fornecedor de centenas de casos de risco para a respectiva Comissão de Protecção de Menores.Depois, nos dias que correm, existem mecanismos que potenciam esta "não integração" psíquica dos mais novos, como as falhas na estrutura familiar de base e o empobrecimento da qualidade real dos modelos de identificação, mesmo os transmitidos pelos grandes agentes da comunicação social. A esse propósito, basta passar os olhos por alguns dos programas televisivos desta nova temporada para simplesmente dizer "isto não é possível!..", e esperar que cada vez mais pais e adultos tornem real a possibilidade de criar pólos de cultura diferentes de uma lama onde é preciso não mergulhar, mesmo quando isso implica um caminho difícil e exigente na relação com os seus filhos. Por isso, quando é possível assistir a espectáculos de cariz marcadamente popular, como as Feiras Novas de Ponte de Lima, no Minho, que movimentam milhares e milhares de pessoas numa genuína ligação à sua terra e à sua cultura, é fácil entender o valor da sua existência e da tradução de uma alegria e de um prazer de ser e de existir.Ao longo de três dias, é possível ver muitos rapazes e raparigas, alguns de muito baixa idade, ligados às tradições seculares da sua terra (a vila comemora 880 anos de foral, isto é, anterior à própria nacionalidade de Portugal), trajando a rigor, integrados em bandas ou em grupos de danças e cantares de diversas colectividades, ou representando com brio num desfile etnográfico as características mais típicas das suas freguesias. Claro que todos estes aspectos dão não só vida e alegria a uma região como são expressão espontânea da ligação das pessoas a determinadas referência, que não só existem como se perpetuam no tempo, permitindo uma ligação e uma continuidade entre o passado, o presente e o futuro. Por isso, não é difícil perceber que, para os mais novos que participam activamente no colorido humano destas festas, tudo i
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