O CONTEÚDO DA FELICIDADE
(Fernando Savater)
O livro, abre com uma dedicatória a Mario Miguez, “de quem seria incapaz de não gostar”. Poderíamos pensar que, no âmbito ou no miolo desta citação, poderíamos encontrar a felicidade. Mas.... ser incapaz de não gostar, será a mesma coisa que dizer, gostarei de ti para sempre. Mas ao dizer isto, estamos a dar ao outro a possibilidade de ambos estarmos bem... mas podemos não estar felizes. Porque a felicidade é um projecto de inconformismo. A felicidade é aquilo que brilha onde eu não estou, ou ainda não estou ou já não estou. Por outras palavras, felicidade é aquilo que nós desejamos mas nunca conseguimos ter. Muitas vezes estamos à porta mas entramos nela muito poucas vezes. Por felicidade, na opinião de um palhaço, é não conseguir entender nada que dure mais do que um segundo, ou quando muito dois os três. Quer isto dizer que a felicidade é um estado de espírito que nos proporciona bem estar, mas que é passageiro. A tendência do nosso estado emocional é para tornar esse período de bem estar diminuto, ou seja mais pequeno, cada vez mais pequeno, já que o nosso estado de espírito está sempre mais disponível para receber situações de agressão externa, as que não nos permitem conviver durante muito tempo com o bem estar da felicidade.
A felicidade é uma das formas de memória. Quando parecemos felizes são as boas recordações que vêem à tona.. A felicidade foi considerada durante muito tempo uma ideia politicamente de «esquerda». As pessoas fiéis a esta filosofia política, sentem-se bem melhor enquadradas entre o que pensam e o que sentem, daí resultando alguma dose de boa felicidade Numa certa direita, podemos observar que isso também pode acontecer. .
A felicidade é um momento.
SOUSAFARIAS
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