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O diabo canibal
(Marco Antonio Santos Cruz)

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"Quem sou eu? Eu sou conceituado, Sou o diabão assado, Trechos extraídos do “Auto de São Lourenço”, peça teatral religiosa de autoria do Padre José de Anchieta, encenada em 10 de agosto de 1587, na Aldeia de São Lourenço [atual Niterói]. Recapitulemos que, no episódio da dita “Paz de Iperoig” [1563], Aimbirê se opôs frontalmente a qualquer acordo luso-tamoio, chegando a estar entre aqueles que queriam moquear os padres [Anchieta e Nóbrega]. Torna-se relevante, portanto, o fato de Anchieta, mesmo assim, sofrendo pessoalmente as afrontas de Aimbirê, ter colocado em sua peça teatral, Guaixará como o “Diabo-rei e Aimbirê como seu criado.” Fala de Guaixará: Eu somente / nesta aldeia estou/ como seu guardião, /fazendo-a seguir as minhas lei . Daqui vou longe visitar outras aldeias. Pretendo alvoroçar as tabas todas. “É boa coisa beber,/ até vomitar, cauim./ É isto o maior prazer,/ isto sim, vamos dizer,/ isto é glória, isto sim!”; “Enraivar, andar matando/ e comendo prisioneiros,/ e viver se amancebando/ e adultérios espiando,/ não o deixem meus terreiros.” No discurso de Guaixará, Anchieta enumera os “pecados” mais recorrentes entre os indígenas colocando a culpa no ente, agora espiritual, Guaixará-diabo. Ele metamorfoseou a imagem de Guaixará elevando-o ao status de demônio-rei no mundo espiritual da mesma forma como tinha sido cacique-rei no mundo material. Por que Anchieta não aproveitou que Guaixará já estava morto para deixá-lo cair no esquecimento? Simplesmente porque ele estava vivo como símbolo de resistência e sua fama perdurava. Como os registros históricos sobre os tamoios da “banda do Cabo Frio” são esparsos, Aimbirê , tornou-se imortalizado pelo quadro de Amoedo “O Último Tamoio” de 1883, quadro inspirado no poema de Gonçalves de Magalhães “A Confederação dos Tamoios”, de 1856. Querendo diabolizar toda a mitologia tupinambá o padre José de Anchieta, no “Auto de São Lourenço”, protagonizou as hostes do bem através de São Lourenço [mártir cristão açoitado, esfolado e grelhado no tempo do Imperador romano Valeriano-258 D. C], São Sebastião [mártir cristão do período de Diocleciano – 286 D.C] e ainda de um Anjo da guarda. Como os tupinambás cultuavam seus antepassados, o teatro mostrou-se um meio eficaz de impor uma nova pedagogia que pretendia sepultar os costumes antigos. Num confronto de teodicéias, a catequese católica fez uso do culto dos seus mortos [heróis-mártires santificados] em oposição aos antepassados “heróis- malignos” dos tupinambás. Agora, imaginem a cara do Araribóia, assistindo a seus filhos, netos e bisnetinhos encenando tal espetáculo aonde os entes católicos espiritualizados combatem e vencem os “entes malignos” dos tupinambás. Ele, Araribóia, que havia vencido Guaixará em diversos combates. Ele, que sobrevivera às batalhas ao contrário de Estácio de Sá [porque não dizer também que Araribóia estava sob a proteção divina], simplesmente está ausente de todo o drama do “Auto de São Lourenço”. Araribóia recebeu o hábito de cavaleiro da “Ordem de Cristo” mas foi excluído da peça que apresenta, ainda que transposta para o plano espiritual, os combates que ele sim, venceu e sobreviveu. Estamos falando das batalhase também de sua conversão abandonando os antigos costumes bárbaros. Se me permitem a descontração. Araribóia, com toda a sua humildade cristã, bem que poderia ter pensado: Fala Sério! Ninguém merece! -



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