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EM DEFESA DE JOSÉ AGUALUSA
(SOUSA JAMBA)

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Em recente entrevista concedida em Angola, o escritor e jornalista José Eduardo Agualusa disse, nomeadamente, que «uma pessoa que ache que Agostinho Neto, por exemplo, foi extraordinário poeta é porque não conhece rigorosamente nada de poesia. Agostinho Neto foi um poeta medíocre. O mesmo se pode dizer de António Cardoso ou de António Jacinto...»
Artur Queiroz, que assina textos de opinião no Jornal de Angola, atacou Agualusa de uma forma tão grosseira que reduz o que deveria ser um debate sério sobre a nossa herança cultural a uma briga de bêbados numa tasca.Tenho profunda admiração por Agualusa, que é sem dúvida o escritor mais sério da nossa geração. A sua capacidade de trabalho e determinação de sobreviver como escritor são impressionantes.Na entrevista, Agualusa afirma que só quem lê seriamente é consegue escrever livros sérios. Esta é a perspectiva de alguém que acredita numa análise rigorosa de obras literárias.Avancemos, porém, para a questão que tanto incomodou algumas mentes: Agostinho Neto foi ou não um poeta medíocre?No que me diz respeito, e para ser franco, devo dizer que não tenho uma resposta à mão, porque nunca me sentei seriamente para analisar minuciosamente a poesia dele. Posso, porém, afirmar que os poemas do moçambicano José Craverinha me comoveram bastante quando os descobri, há alguns anos. (…)Há dias li obras de poetas como Phillip Larkin, Ted Hughes e Seamus Heaney, que também me comoveram bastante. Ted Hughes, por exemplo, foi esposo da poetisa Sylvia Plath. Ele é detestado por muitas feministas no Reino Unido e nos Estados Unidos que o responsabilizam pela morte da sua mulher. A esposa de Hughes suicidou-se, porque o marido seria um mulherengo. Esta é claramente uma apreciação errada: deve fazer-se uma clara distinção entre o poeta e o homem. Não há dúvida que as obras de Ted Hughes, que tratam minuciosamente da natureza, têm uma qualidade literária inegável. Quanto a Ted Hughes gostar muito de mulheres, isto é outra conversa.As considerações em torno de Hughes e Larkin levam-me às três figuras cujo mérito literário foi questionado por Agualusa, o que deu lugar à fúria do senhor Artur Queiroz.Quando Agualusa diz que Agostinho Neto foi um poeta medíocre não está, nem de longe, a questionar as suas credenciais como nacionalista angolano. Isto está fora de questão.A fusão do Neto-poeta com o Neto-político, muitas das vezes feita, é que resulta em afirmações intelectuais pouco firmes. Um bom político não é necessariamente um bom poeta e vice-versa. O senhor Artur Queiroz afirma que Agostinho Neto é universalmente reconhecido como grande poeta. Tenho dado aulas e feito conferências de e sobre Literatura Africana em várias partes do mundo. Muitos dos meus alunos e participantes dessas conferências nunca ouviram falar de Agostinho Neto.Da África Lusófona só há dois escritores de que se fala muito: o moçambicano Mia Couto e o angolano... José Eduardo Agualusa. Será que isto é justo? Mia Couto e Agualusa chegaram «lá» por mérito próprio ou, como muitos escritores negros dizem em privado, ambos são promovidos por fundações portuguesas, porque é neles que muitos lusos se revêem?Será que Agualusa é mesmo um bom escritor (eu acho que sim) ou será, apenas, fruto de um bom marketing? Pergunto: Agualusa e Mia Couto serão apenas escrivães que relatam à metrópole (os salões de Cascais) os últimos desenvolvimentos que ocorrem na terra dos pretos? Sei do que estou a falar.Sei que estou a pisar os terrenos das ideias preconcebidas. As respostas a estas questões só podem ser encontradas num engajamento sério com as obras de Agualusa e Mia Couto. E se formos honestos, desse engajamento podem até surgir factos que iluminariam de forma profunda a nossa existência como africanos.O senhor Artur Queiroz defende Agostinho Neto, António Cardoso e António Jacinto sem aludir às suas obras poéticas. Segundo diz, «a vida do António Cardoso é o mais belo poema que alguma vez já se escreveu.» Mas o que é isso? A questão é saber a razão que faz com que o senhor Queiroz pense que António Cardoso não é um poeta medíocre - como Agualusa afirma. Alguém tem de mostrar-nos que Agualusa está equivocado.Em Angola impõe-se elevar o debate sobre a nossa vida cultural. O texto de Artur Queiroz está cheio de elogios a figuras que já não precisam disso (…).
Temos de agradecer a Agualusa por ter levantado a questão. Agora cabe-nos ler ou reler as obras dos autores que ele menciona para tirarmos as nossas conclusões.



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