Semelhante aos deuses 
(Theresa50)
  
Semelhante aos deuses me pareces 
 Tu 
 E a tua voz, que me agita o coração. 
 Basta ver-te, 
 para que nem atine com o que diga, 
 para que a língua se torne inerte, 
 para que um fogo me arrepie a pele e 
 deixem de ver os meus olhos... 
 Pudesse eu não ter laços nem limites 
 para poder responder aos teus convites 
 suspensos na surpresa dos instantes! 
 Quem és tu que assim vens pela noite adiante, 
 pisando o luar branco dos caminhos, 
 sob o rumor das folhas inspiradas? 
 A perfeição nasce do eco dos teus passos 
 e a tua presença acorda a plenitude 
 a que as coisas tinham sido destinadas. 
 A história da noite é o gesto dos teus braços 
 quando me envolvem, o ardor do vento, a tua 
 juventude. 
 Conheci-te. 
 Disseste amar-me... 
 Irei beber a voz dessa promessa 
 E nela cumprirei todo o meu ser, 
 Porque tu 
 És a Primavera que eu esperava 
 A vida multiplicada 
 Em que é pleno e perfeito cada instante. 
 Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos, 
 Sacode as aves que te levam o olhar, 
 Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras 
 Porque eu cheguei 
 E é tempo de me veres, 
 Mesmo que os meus gestos te trespassem de solidão 
 Mesmo que a minha voz queime o ar que respiras. 
 Vem! 
 Param os meus olhos quando penso em ti.   
 Vem! 
 Chamo-te porque tudo está ainda no princípio 
 E suportar é o tempo mais comprido. 
 Peço-te que venhas e me dês a liberdade, 
 Que um só dos teus olhares me purifique. 
 Peço-te que sejas o presente. 
 Peço-te que invadas tudo. 
 E que o teu reino, antes do tempo, venha 
 E se derrame sobre a Terra 
 Em Primavera feroz precipitado. 
 Numa noite de mar e de amor, 
 Pelas tuas mãos medi o mundo 
 E na balança dos meus ombros 
 Pesei o ouro do sol e a palidez da lua. 
 A noite abre, também aqui, os seus ângulos de lua 
 E em todas as paredes te procuro. 
 A noite ergue as suas esquinas azuis 
 E em todas as esquinas te procuro. 
 A noite abre as suas praças solitárias 
 E todas as solidões eu te procuro. 
 Ao longo do rio, a noite acende as suas luzes 
 Roxas, verdes e azuis. 
 Eu te procuro. 
 Num deserto sem água 
 Numa noite sem lua 
 Num país sem nome 
 Ou numa terra nua 
 Por maior que seja o desespero 
 Nenhuma ausência é mais funda do que a tua. 
 
  
 
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