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O anticristo
(Friedrich Nietzsche)

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Esta obra de Nietzsche se dedica a interpretar o cristianismo, com base, principalmente, no próprio texto sagrado cristão, o Novo Testamento, e por meio do estilo aforismático característico do autor, com todas as suas ambiguidades e contradições que provocam tantas interpretações radicalmente diversas e mutuamente excludentes. Segundo Nietzsche, o cristianismo deve ser remontado às suas origens na teocracia hebraica do mundo antigo, isto é, ao domínio da casta sacerdotal sobre o povo hebreu; o judaísmo antigo, assim como o próprio cristianismo desde São Paulo, representa, portanto, um instrumental de legitimação do poder sacerdotal. Este representa, para Nietzsche, a decadência das forças instintivas e espirituais do homem, no sentido de ser uma força que se organiza contra a natureza e a vida. Uma cultura de repressão dos instintos é, segundo Nietzsche, a conseqüência do poder sacerdotal e da sua mais eficaz ferramenta de dominação, o cristianismo, que surgiu como uma rebelião dos doentes, fracos e oprimidos contra a aristocracia. Assim, Nietzsche reduz a história da cultura Ocidental ao esquema do conflito entre a moral de escravos e a moral dos senhores; a primeira caracterizada pela crença, pelo ressentimento, desejo de vingança, humildade submissa, intolerância e fraqueza da vontade; a segunda, pelo ceticismo, generosidade, orgulho, amor pelo saber e por uma forte vontade de poder. Nietzsche compara o cristianismo com o budismo, que para ele é organizado como religião atéia, centrada na higiene mental interna por meio dos hábitos de meditação e atenuamento dos desejos. Para o autor, "o evangelho morreu na cruz", e o verdadeiro fundador do cristianismo não foi Cristo, descrito como um simples rebelde e agitador das massas que recusava o domínio da casta sacerdotal e a moral que o legitimava, mas sim São Paulo de Tarso, o verdadeiro divulgador e organizador da seita cristã, responsável, também, pelas bases do corpo dogmático cristão em geral, e, conseqüentemente, para o exercício do poder sobre as massas por parte de uma casta sacerdotal, domínio ao qual até os chefes político-militares e os intelectuais precisam fazer concessões, quando não se curvar, pois a religião possui a maior influência sobre a mentalidade das massas. A Reforma protestante, na história do cristianismo, apresentaria um aprofundamento deste processo de "enfraquecimento" e subjugação do homem, pois ela foi uma rebelião não contra o clero católico, mas contra a Renascença, que parece ser muito admirada por Nietzsche pela sua moralidade e grandes realizações artísticas, embora a ambígua personalidade do filósofo o leve a elogiar um governante violento e autoritário como César Bórgia. Também em relação aos judeus a sua atitude é ambígua, pois Nietzsche demonstra repulsa, ao mesmo tempo, contra o judaísmo e contra os anti-semitas, mostra acreditar em teorias raciais da sua época mas não demonstra ódio racial contra os judeus. Assim, sua obra não legitima o anti-semitismo, como querem alguns dos seus detratores progressistas e admiradores anti-semitas. Mas Nietzsche está longe de ser um escritor de concepções democráticas e libertárias. Seus aforismas atacam as classes populares de modo violento, não nos possíveis embrutecimentos e resignações que a pobreza e a opressão provocam em um indivíduo das camadas subalternas (chegando a dizer que é preciso que a mediocridade seja a "regra" para o surgimento de "exceções", "grandes espíritos", seja possível e desejável), mas sim nas formas de resistência e inversão da dominação social estabelecida.

Uma questão interessante é a interpretação da relação entre religião e ciência. Nietzsche argumenta que o cristianismo e incompatível com a pesquisa científica séria, pois provoca, como sintomas psicológicos, a intolerância e o ressentimento, que impelem para a repressão contra a busca da verdade, vista como algo que bloqueia a convicção, pois a ciência se guia pelo método e pela dúvida sistemática, enquanto o cristianismo exige dos seus fiéis uma crença indiscutível nos seus dogmas. Um aspecto para o qual Nietzsche chama a atenção repetidas vezes é que o cristianismo, segundo ele, usa o prazer como critério de legitimação da crença, o que o autor acusa de ser incompatível com a ciência. A sensação de prazer do cristão diante da crença, que ele então passa a chamar de verdade revelada, vai contra toda a pesquisa e dúvida sistemática e metódica, pois o prazer não é um critério para a verdade, que, argumenta o filósofo, muitas vezes é dolorosa, perturbadora. O espírito científico se desenvolveria, então, contra o cristianismo, pois o primeiro seria baseado na pesquisa metódica, na crítica aberta e na dúvida sistemática, enquanto o segundo na convicção fanática, nos dogmas e na intolerância contra a divergência de opiniões.



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