O CÃO TOMOU A CARRUAGEM - FÁBULAS
(La Fontaine)
Só esta fábula, se é de Fedro sua redação mais moderna, valeu-lhe o exílio. Parece que La Fontaine também a contou, mas parou na pergunta do Bobo da Corte. Os editores preferiram não incluí-la ou eu é que não a li. Bem! Contemos o milagre sem pensar no santo, em boa linguagem fabulina: Era umavez um Bobo da Corte que acompanhava o Rei em sua carruagem quando um cachorro saíu à rua e correu ao lado da roda a galope. Ao que nos parece hoje o cão se sente irritado com rodas a girar. Como ele não parava de acompanhar o veículo, o Bobo debruçou-se da janela e lhe perguntou em tom sério: Amigo! Se você pegar a carruagem, o que vai fazer dela? O riso da comitiva foi maior ainda porque o cão encarou o seu questionador como se houvera entendido, meteu o rabo entre as pernas e se afastou de cabeça baixa. O Bobo ainda se justificou: Ele não sabe conduzir, não tem força para levá-la, nem lhe serve para comer! Que vai fazer se pegar? Pois é, Fedro compara essa pergunta ao que se deveria perguntar a muitos incompetentes que lutavam em Roma para serem nomeados para cargos de César. Já La Fontaine teria entendido aplicar a moral da fábula aos que lutam para ter fortuna e não sabem o que fazer quando a conseguem. Nós ficamos pensando no triste espetáculo dos pittbulls políticos de nosso tempo, já a bordo da carruagem que assaltaram, levando todos ao abismo e que só deixam a boléia quando mortos. As forças da nação terão que tirá-los de lá.
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