Resumo de Por favor! - Ana Carmen Castelo Branco

POR FAVOR

Se agora, neste exato momento, temos diferenças, mesmo que sejam pequenas, mínimas com alguém de nossa família, de nosso círculo de amizade, se tivemos uma briga, discussão com um filho, marido, irmão, pai ou mãe, levante-se e saia de onde você está e abra seu coração. Deixe-o vulnerável, aberto, em carne viva. Não demore muito tempo remoendo as coisas, nem fique analisando quem está certo ou quem está errado. Não tenha medo, não se sinta envergonhado. Por favor, o mais rápido possível, peça perdão ou perdoe, se for o caso. Porque, numa fração de segundo, as coisas mudam, a vida acaba e torna-se tarde. O ritual de um velório, de um sepultamento, de uma cremação, de uma missa de sétimo dia já será tardio para a pessoa que se foi responder ao seu pedido. Se gostamos demais de alguém de nossa família, de nosso círculo de amizade, se amamos um filho, marido, irmão, pai ou mãe, se admiramos um amigo, não aguarde. Não fique pensando que esta pessoa vai se sentir lisonjeada demais e você diminuído. Não receie nem se envergonhe. Esqueça as pieguices e os clichês. Alguém já disse que as cartas de amor são ridículas. Então, por favor, não tenha medo do ridículo e diga o que sente o mais rápido possível. Abrace, beije, ande de braços dados, fale o que está lá no fundo de sua alma. Abra um sorriso. Fale baixo, mas com firmeza. Distribua felicidade. Visite (um hábito tão antigo e tão bom que foi por água abaixo depois dessa tal de tecnologia). Porque, quando você menos esperar já será tarde e seu diálogo pode se tornar um monólogo, uma conversa sem eco. A vida é um turbilhão de emoções. Ela tem uma força tão grande que nos cega e nos engana. Pensamos que, por ser tão forte, ela não se acaba. Ledo engano. Assim como uma faca afiada, a morte vem e nos tira a oportunidade de ter falado, de ter abraçado e beijado, de ter compartilhado e dividido tudo, o bom e o ruim. Ao agir assim eu lhe garanto uma leveza de alma e um calor no coração. Uma paz. Ah, antes que eu me esqueça, ando precisando de visitas...
Ana Carmen Castelo Branco - Terça-feira, 31 de Maio de 2005 05:33 - 15 dias após a morte de meu irmão, Mário.

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