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O Anel de Polícrates
(Machado de Assis)

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            Dois amigos conversavam quando, ao alcance da vista, pareceram-lhe ver Xavier. Este que de acordo com um dos amigos, mais antigo, fora homem de muita letra e riqueza, para o outro que o conhecia a quinze anos nada sabia desta particularidade.
            Tudo tinha e tudo perdera.
            Contava o amigo mais próximo que estando um dia à frente da janela, Xavier viu um homem montado a cavalo. O animal hesitou por um instante, e quase derrubou o taful. Este equilibrou-se e ao usar as esporas com firmeza, em dez minutos retornava o cavalo à mansidão. Foi quando Xavier cunhou a seguinte frase, comparando a vida a um cavalo xucro ou manhoso: “ Quem não for cavaleiro, que o pareça ”. Sentiu-se como um resgate dos tempos de fartura, e flexionou a idéia para si das diversas formas que a sintaxe permitia.
        O amigo continuou falando que Xavier havia-lhe contado a estória do anel de Polícrates: Um rei muito feliz, governava a ilha de Samos, e por tanta felicidade começou a temer alguma reviravolta da sorte, e para acalmar tal sentimento, resolveu fazer um sacrifício, jogar ao mar um anel precioso, que lhe servia de sinete. Porém qual não era sua fortuna: O anel jogado ao mar, por um peixe comido, e pescado, acabando por parar na cozinha do rei, indo diretamente para o prato do soberano, que teve de volta assim seu anel.
        Xavier resolveu reconstituir a idéia de Polícrates, e o anel seria sua frase, que lhe pareceu genial. Lançaria às águas da sociedade, e esperaria seu retorno, se assim o fosse.
        Depois de um introdução acalorada contou a um amigo, sensibilizado então, a sua frase.
        Três semanas depois ao ler o jornal, viu um hibridismo de seu pensamento verbalizado, e pensou: “ Meu pobre anel, eis-te enfim no peixe de Polícrates ”. Mas foi apenas deixar o jornal de lado, esquecera a frase.
        Foi convidado a uma recepção para festejar um título nobiliário. Uma pessoa comparou o recém barão a um cavaleiro emérito, o que pareceu estranho já que o Barão não montava a  cavalo.
        O autor do louvor explicava que a vida não é mais do que um cavalo xucro ou manhoso, sobre o qual ou se há de ser cavaleiro ou parecê-lo, e o barão era-o excelente. Pensou Xavier: “ Entra, meu querido anel, entra no dedo de Polícrates ”. Porém, novamente a idéia não se estabeleceu no espírito de Xavier, não era a mesma.
        Depois vários episódios parecidos.
        Um outro dia Xavier leu no jornal: “ O ministério parece ignorar que a política é, como a vida, um cavalo xucro ou manhoso, e, não podendo ser bom cavaleiro, porque nunca o foi, deveria ao menos parecer que o é ”.
        Pensou Xavier que a idéia já não poderia mais fugir-lhe, mas ainda assim o fez. Atônito, desesperado ficou andando até a noite cair. Entrou em um teatro, e o coração acalmou-se. Qual foi a sua surpresa que no segundo ato, cena VIII, estremecendo ouviu: “ D. Eugênia, diz o galã a uma senhora, o cavalo pode ser comparado à vida, que é também um cavalo xucro ou manhoso; quem não for bom cavaleiro, deve cuidar de parecer que o é”. Novamente pensou Xavier, meu querido anel...
        A história fecha-se como um círculo, e acaba alguns dias depois de começada. A primeira pessoa a quem Xavier levou a fala estava a beira da morte, e vendo Xavier perto da cama, reconheceu o amigo, e falou-lhe com a voz trêmula: “ Cá vou, meu Caro Xavier, o cavalo xucro ou manhoso da vida deitou-me ao chão: se fui mau cavaleiro, não sei; mas forcejei por parecê-lo bom ”. Xavier chorava. A frase não se prendeu a sua mente, pousou irônica em cima do cadáver, e com um risinho de escárnio... ainda fixou-se no cérebro de alguns amigos da casa , que recolheram esse legado caridoso do defunto. Adeus.



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