O Espelho
(Machado de Assis)
O Espelho - Machado de Assis
Neste conto : quatro ou cinco amigos discutem a natureza da alma humana. Foi então, que Jacobina,um dos nossos interlocutores, falou que todos nós temos duas almas, duas metades e que pode ser qualquer coisa ou objeto ; a segunda alma é a que nos transmite a vida ; uma completa a outra, quem perde um lado da alma perde metade da existência.Uma alma exterior não é igual, muda de natureza e de estado. Para mostrar-lhes o quão isso era verdade, Jacobina relatou um fato que lhe aconteceu quando fora nomeado alferes da guarda nacional aos vinte cincos anos.Isso encheu sua família de orgulho.Pra todo lada que ia era chamado de senhor alferes para lá, alferes pra cá. Um tia,dona Marcolina, que vivia num sítio afastado da cidade, pediu-lhe que fo sse vê-la e levasse a farda. Lá foi adulado de todas as maneiras, os privilégios de primeiro lugar foram-lhe dados.E sua tia, pelo imenso orgulho que sentia, ofereceu-lhe um grande espelho,dizendo que ele merecia tudo aquilo e muito mais.Isso, confessou Jacobina, o transformou.O alferes, substituiu o homem.O orgulho de ser alferes sobrepujou sua natureza humana.Quando por motivo de doença- a tia, sem vacilar e sem importar-se com ele - deixou-o sozinho com os escravos, que o trataram com extrema deferência para poderem fugirem logo em seguida; tiu oprimido, sozinho,como se fosse um boneco sem vida.Passou a se alimentar mal, por mais que tentasse se reanimar, nada mudava e tudo voltava ao silêncio depressivo.Ele, sentia uma ausência que não sabia explicar.Somente após oito longos dias nessa agonia,deu-lhe vontade de se olhar no espelho com a finalidade de ver-se em dois, a figura que via se mostrava dispersa, mutilada.Aí, teve uma idéia, resolveu se vestir de alferes e o milagre aconteceu; quando se olhou no espelho, sentiu-se vivo, sua alma exterior tinha voltado para ele. Para se sentir vivo novamente, passou os dias restantes a vestir-se e ficar em frente do espelho-lendo, olhando-se e meditando. só assim conseguiu aguentar a solidão até a volta de sua tia.M. de Assis, continua a nos surpreender com sua imprevisibilidade.
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