O cemitério dos barcos sem nome
(Arturo Pérez-Reverte)
O autor foi uma surpresa para mim. Pensava eu que depois de Montalban desaparecer tínhamos que esperar mais 10 anos para encontrar um bom escritor Espanhol para entreter esse vazio que a adolescência nos deixa para preencher durante a vida. Sinceramente tenho que dar a mão à palmatória. Tempos idos são os que me faziam pregar que a diferença entre os anglo-saxónicos e os latinos se traduzia, na literatura, na estrutura e no conteúdo da história ( a favor dos povos do Norte) e na forma ou na narrativa ( a favor do sul). Assim o meu caminho era, como Montaban imortalizou, no sentido dos mares do sul. Mas quando nos queremos pregar ao mundo, precisamos do concreto e assim o meu coração ia vacilando entre o Norte e o Sul, como uma guerra sem razão. Arturo livrou-me desta guerra e põe na bandeja uma escrita que encanta e nos obriga a caminhar até ao fim sem sentir o cansaço. O povo espanhol tem-me dado razão e a sua fama é já internacional. Vou lêr mais Arturo e se não confirmar o que aqui sentencio, voltarei para alterar esta págima e repôr outra razão que para já não vislumbro.
Os tesouros que a adolescência e até as mais tenras idades me deixaram na vontade, continuam a induzir-me o sono antes de Orfeu me fazer sucumbir. Arturo conta um desses sonhos com tesouros à mistura, galeões e piratas. O herói, muito ao estilo de Marlowe, deixa que a inteligência caia como argumento de diferenciação dos homens. São os valores humanos que se tornam nos super-poderes deste gajo feio e rude que tem como motor a paixão por um rabo de saias, a maior razão que leva um marinheiro a ancorar e sentir a tontura de andar em chão firme.
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