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O Conto do Amor
(Contardo Calligaris)

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Em nosso cotidiano vemos a tentativa de prática de um discurso a respeito do amor onde reinam as possibilidades de transcendência de um sistema de regras diárias a que se está submetido, da forma mais apaixonada: a possibilidade de extrema transformação da realidade em ilusão, onde a grande utopia venha a ser correspondente à realidade. $0 Isto é, as regras de um sistema econômico, prioritariamente, são o estimulante para que casais se prometam amor até o final dos seus tempos – “infinito enquanto dure”, na pior das traduções. Uma necessidade um tanto quanto doentia, no que se projeta ao outro, ou mutuamente, a realização de projetos pessoais. Certamente, estamos em um período de um pouco mais de amadurecimento, mas como a idéia está enraizada na cultura, a transformação se dá a longos passos. A rebeldia alimenta o romântico, as loucuras, mas não alimenta rupturas de condições pré-existentes de vida. A paixão se extingue. O amor continua na história individual.$0 O aspecto econômico vem se apoderando mais “dos amores”, no que uma união significa: fortificação da estrutura sócio-econômica, a projeção de curto a longo prazo de uma série de desejos transformados em necessidade através dos consumos de bens que sirvam a um lado “prático, cooperativo e saudável”, sem falar na longevidade em que, iniciada uma relação, outros serão os valores agregados ao cotidiano, resignificados às plenas utilidades dos bens materiais, agora indispensáveis ao ser.$0 Pergunta-se: o que é o amor senão um ideário?$0 Estes questionamentos anteriores são uma reflexão deixada em paralelo, mas com suma importância, no contexto do livro O Conto do Amor, de Contardo Calligaris – italiano, psicanalista, psicoterapeuta e ensaísta, que narra de forma elegante uma história intrigante que possui em seu pai a origem do complexo de revelações surpreendentes pelas quais discorre em seu livro.$0 O título contém uma dubiedade bastante perspicaz, para a colocação do livro em um mercado editorial em que o apelo próximo à fatia bastante lucrativa da auto-ajuda pode induzir a um consumo equivocado de uma necessidade forjada mas que, na verdade, traz em si as respostas mais sutis e “certas” sobre o “conto do amor”: como “conto” é “trapaça”, como diz a expressão popular “o conto do vigário”; como “o conto”, um inventário completo das condições em que surge o amor; e a brincadeira que o amor faz na vida de qualquer pessoa, rompendo inusitadamente o sistema de valores, aterrissando de forma inusitada sobre os sentidos.$0 Em vários níveis o amor é abordado. Primeiro, na relação do protagonista com o pai. Óbvia é a nacionalidade italiana de ambos; o protagonista é psicanalista – tal e qual à vida do autor, que se divide entre Brasil, Estados Unidos e Itália. Sua relação afetiva com o pai é vivida de forma sutil, com breves e raras palavras, quando na troca de mais de meia dúzia de palavras, aparece o motivo da trama bem elaborada. No começo da debilitação física, o filho faz a barba do pai que aproveita a situação e conta uma história fantástica que leva o psicanalista a uma grande jornada de pesquisas através da história e da arte. Fora este momento de troca íntima de informações e palavras, o ato deste amor acontece novamente um mês depois, quando acontece a morte do pai, retornando ao ritual de deixá-lo com a barba feita. O amor é vivido e muito pouco falado.$0 O recado que o pai transmite é um desafio: supõe ser a reencarnação de um ajudante de um pintor renascentista, Sodoma. Doze anos após, através da impertinência da repetição do que lhe contou o pai, outra faceta do amor é mostrada: um ambiente bucólico, a Itália renascentista, os mitos contidos na história da arte, a empatia com rebeldes religiosos, a própria arte como história e motivo romântico, a curiosidade e desejo pintados em claustros de vilarejos italianos de difícil acesso. O senso da curiosidade onde se requer a descoberta – um dos motivos do amor – é o ambiente romântico e repleto de suas nuances, o cenário onde o protagonista deverá se jogar à larga pesquisa que lhe promete revelações e questionamentos maiores do que promete o “enredo inicial” enunciado pelo pai. No entanto, não é o amor romântico que é visitado, pelo contrário, é um amor como fato da vida, elemento inerente mas não decisivo para mudanças bruscas de rota.$0 Dos dias atuais à renascença, pela história da arte, pela arquitetura, pelos costumes das épocas, pelos personagens bem delineados na narrativa, o amor ganha seu conto da forma mais elegante: intensamente vivido e admirado pelos que vivem e os que observam, trazendo à tona um gosto de “quero mais”, próprio do romantismo, mas que se conclui a insuspeição das impossibilidades de serem vividos ou mantidos, além de seus próprios movimentos de vida. $0 Viver o amor na vida e não a vida no amor parece ser a grande questão colocada em todos os níveis de crenças e práticas na existência. Os impulsos rebeldes não são suficientemente fortes para transformar um amor vivido em condição estável de relação, mas em possibilidade vivencial. É neste posicionamento que entra uma colocação não explícita, senão na exposição de motivos para que não exista o mais pleno exercício do amor, contínuo, com possibilidades de longevidade. O confronto impõe suas regras morais e éticas. E os personagens continuam suas vidas repletos de suas histórias vividas, as que marcam a existência da mais sutil e doce matiz do amor.$0 $0



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