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O Cobrador
(Rubem Fonseca)

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Segunda Guerra Mundial. Hiroxima e Nagasaki, duas cidade fantasmas. A humanidade vê perplexa o resultado do desenvolvimento tecnológico. Ficam no ar o terror e o temor de uma terceira guerra mundial que poderá acabar com o mundo. Com isso, a esperança da humanidade no futuro perde o sentido de ser, já que o próprio futuro não é mais garantido.
A modernide. As indústrias. Os muito ricos e os muito pobres. Neste contexto o homem passa a ser apenas uma peça de engrenagem. Ele vale pelo que pode produzir. Mas o homem já não produz nada inteiro individualmente. Ele produz apenas parte de um todo que foi iniciado e será terminado por outros. Ele, como peça de engrenagem, só tem valor se estiver na engrenagem. Fora dela, ele é sem valor, pois não produz nada sozinho. O homem deixou de ser "ser humano" e passou a ser um ser social.
Mas o humano do ser não morreu. Está apenas sufocado dentro da roupagem social. E na arte pós-moderna este humano vem dar seu grito, mostrando os males e os ridículos da tecnologia da modernidade e exigindo que o homem seja novamente humano.
Em O Cobrador, conto de Rubem Fonseca, o personagem principal,o Cobrador, é um homem-peça da sociedade industrial, que tem consciência de sua individualidade. Ele é capaz de produzir sozinho. Produz poesias.
O que ele cobra?
Para entender, vamos pensar um pouco como um capitalista.
O capitalista contrata alguém para produzir determinado produto. Digamos que o serviço desta pessoa valha R$ 100,00. Se o capitalista pagar a ele este valor não terá lucro. Portanto, pagará um valor menor, digamos R$ 40,00. Ironicamente, quanto mais dinheiro os produtores estiverem precisando, mais facilmente aceitarão trabalhar por menos. Mas a ideologia dominante diz que quanto mais uma pessoa trabalha, mais ele tem condições de melhorar de vida.
Vamos, agora, invadir a mente do Cobrador.
Ele era um homem que acreditava na esperança do futuro. Ele era como muitos que trabalham e esperam, e lá se vão dez, vinte, trinta anos sem que nada melhore. Como muitos, cansou de esperar. Finalmente percebeu que, durante tanto tempo, os capitalistas lhe roubaram os R$ 60,00 a mais que valia seu serviço. Percebeu que os capitalistas o forjaram numa forma (chamada de escola e de sociedade) para ser apenas uma peça aos seus serviços. Roubaram-lhe sua individualidade e tudo que poderia ter criado e sido. Agora era hora de cobrar tudo isso, que a sociedade capitalista lhe devia.
O Cobrador se torna um arquétipo extremado do artista pós-modernista. Este artista quer que o homem torne a ser humano. Para isso, vê a necessidade de destruir a máquina. Esta funciona de modo harmônico, controlada pelas normas sociais e morais. Para destruir a máquina é necessário destruir essa harmonia, e necessário promover a ruptura da peça com a máquina.
O Cobrador começa a cobrar. O tiro é seu grito de revolta. Não mata o dentista, ele é apenas uma peça intermediária. Atira contra o Mercedes, símbolo de status social, ganhado a partir da exploração dos pobres. Mata o muambeiro por se também um explorador. Mata o jovem casal de alta classe, perfil da classe dominante. Corta a cabeça do jovem, como fez o jovem Davi ao matar o poderoso gigante Golias. O Cobrador venceu o mais forte, venceu o dominador.
No conto, Rubem Fonseca ainda nos mostra que esta crise existencial provocada pela modernidade não afeta apenas aos pobres. O cobrador conhece uma moça na praia (onde todos, desprovidos de suas carcaças sociais, mostram o que realmente são, apenas animais homo sapiens). É uma moça de alta sociedade e que representa justamente a classe contra a qual ele tem lutado. Mas ela também tem sua crise existencial. Junto a ela, ele muda sua visão de ação. Matará agora em grande escala. Os explosivos darão um grito mais forte.
O autor aqui também dá um grito mais forte. Ele monstra a que ponto chegou o capitalismo, a industrialização. Ele fala de uma festa de Natal, símbolo de toda a virtude humana, sendo festejada como Primeiro Grito de Carnaval, símbolo de pecado. É a distorção das virtudes promovido pelo capitalismo, que fabricou a figura do Papai Noel a fim de estimular a compra de presentes. Por isso, o Cobrador quer mata-lo pessoalmente.
Pós-modernista em todos esses sentidos de revoltas e desmantelação, o conto ainda o é em sua linguagem, que é bem próxima da linguagem popular, utilizando-se inclusive de palavrões e descrevendo cenas de sexo, numa estratégia de choque e de quebra da moral que rege – e muitas vezes cala – a sociedade.
Os “bons” leitores, acostumados a lerem nas escolas os clássicos brasileiros e bons jornais (que normalmente servem à elite), sentem logo um choque (e mesmo um nojo) ao lerem este conto de Rubem Fonseca. É justamente isso que o autor e os demais artistas pós-modernos pretendem. Eles querem mostrar o subterrâneo negro que existe por baixo da bela cobertura da evolução tecnológica, capitalista.



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