Tanta Gente Mariana
(Maria Judite de Carvalho)
Une-se várias histórias de existências trágicas,de sonhos perdidos,de amores libidinosos,de imensas desilusões, introduzindo um extremo realismo na descrição de personagens e ambientes, e, obtemos uma obra excepcional que nos desperta sentimentos e emoções.
Maria Judite de Carvalho, autora de tão brilhante obra,consegue transformar as nossas vidas e fazer-nos reflectir,tentando encontrar alguma explicação,que não encontramos nas ciências, para a loucura e injustiça que é a existência humana.
"Tanta gente,Mariana" é sem dúvida uma obra de gente real,sem máscaras,retratando assuntos que nos estão bem próximos de uma forma incrivelmente realista e melancólica.
Da novela e contos que constituem a obra, "Tanta gente,Mariana" é talvez o conto que maiores emoções desperta. As paixões dominam,a solidão é constante, a morte ataca quando nada mais há a perder...
Aconteceu a Mariana Toledo,uma mulher corajosa, que olha o mundo e as coisas banais nele existentes com uma atitude profunda e sofrida. Mariana Toledo dirige-se ao consultório do professor Cardénio Santos,onde confirma a suspeita de que o seu destino é a morte.
Trancada no seu quarto,longe de todos e já sem noção do tempo,Mariana conta-nos a história de uma infância marcada pela perda de sua mãe e pelo carinho de seu pai ("Só me recordo de que o pai me ouviu e se levantou.Sentou-se ao de leve na borda da minha cama,pôs-se a acariciar-me os cabelos,quis saber o que eu tinha.");de um final triste do seu casamento com António, que se apaixonara por Estrela,uma mulher qiue ambos conheceram em Paris ("O António falava com a Estrela,mas tão baixo que eu não conseguia ouvi-lo.""O António aproximou-se:-Ouve Mariana...Há muito tempo que te queria dizer...que te queria explicar...Mas é difícil,Mariana.Nunca pensei que fosse tão difícil. Olho para ti e não posso...Talvez seja melhor assim...É melhor com certeza..."); de um amor impossível com Luís Gonzaga, um jovem cujo destino tinha sido marcado desde pequenino: fidelidade e amor a Deus (..."destinado a padre pela família.""Mas era porque sofria,porque era infeliz,que me agarrei com força,quase com desespero ao Luís Gonzaga.Ele tinha nos olhos a serenidade de que eu precisava.""-Procuro-te. Para quê frases dessas,Luís? Adeus quer dizer mesmo adeus,não significa mais nada."); da condição das mulheres numa sociedade cruel ("Um dia o meu chefe mandou-me chamar.""-Houve alguém que disse ao senhor Bruno que a senhora está,enfim que a senhora vai...-Ter um filho.Como o senhor pode ver é exacto.É mesmo tão evidente que esse alguém se entregou a um trabalho desnecessário.Bastava ao senhor Bruno olhar para mim.""-O senhor Bruno encarregou-me de lhe pedir que deixasse a casa sem mais escândalo,porque este já basta. E é tudo,D. Mariana."); da morte de Fernandinho, seu filho ("E o Fernandinho morreu para todo o sempre.Ele e todos os irmãos que poderia vir a ter. Que era um rapazinho, disse-me a enfermeira.") e da perda de uma amizade ("Esperava com toda a minha alma ter-me enganado e enquanto esperava não voltei a casa da Lúcia. Ela sabia a minha morada, não é verdade?Durante meses não tive notícias dela.").
Entramos assim na existência sofrida de Mariana, e simultaneamente, pessoas que dela fizeram parte, que ela própria recorda na sua longa espera pela morte :" Mas hoje são vinte de Janeiro e daqui a três ou quatro meses começo a esperar a morte."
Perto do sono eterno, Mariana tenta encontrar um sentido para a sua existência. A solidão é a sua única companheira no seio da morte, embora sempre tivesse estado com ela durante a sua existência amargurada. Mariana sabia-o: "Sinto-me só, mais do que nunca, ainda que sempre o tivesse estado."
Ela faz uma retrospectiva da sua vida e vê-se sozinha, tal como quando tinha apenas quinze anos : "Há gente que vive setenta e oitenta anos sem nunca se dar conta.Tu aos quinze... Todos estamos sozinhos,Mariana. Sozinhos e muita gente à nossa volta. Tanta gente, Mariana!" "Nem o meu pai que, coitado havia de morrer poucos meses depois, nem mais tarde o António, e depois o Luís Gonzaga. A vida é como um tronco a que foram secando todas as folhas e depois, um após outro,todos os ramos. Nem um ficou. E agora vai cair por falta de seiva."
"Tanta gente,Mariana" é uma história de reflexão, de procura de algum sentido, de questões às quais não se encontram respostas.Toda a obra o é.
Sim, após a leitura desta obra transformamo-nos em pessoas diferentes. Ouso até afirmar que "crescemos" um pouco, mudamos mentalidades, reflectimos neste percurso existencial que todos fazemos e podemos concluir que estamos sós num mundo repleto de gente.
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