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Velhas CARTAS
(Frei Francisco da Silplicidade)

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Já reparaste no prestigio romantico das velhas cartas, dos papéis enregelados das confidências esqueci-
das, relíquias divinas que o nosso escrito encerra, como ânfora a conter o perfume do que fomos e do que nunca mais tornaremos a ser? Moça como és, flor desabrochada agora, não compreenderás, perfeitamente, a fôrça evocativa dêsse aroma que o passado tem! mas, eu, espinhos que sou de flor que já fui, como sinto, como compreendo, como avalio a fôrça dessa emoção! Flor tambem que fui e espinhos hás de ser tambem, e que por isso, poderás saber da minha experiência as amarguras que te hão de vir, quando mortas forem as tuas doiradas ilusões. Tôda moça deve possuir um escrínio, o confidente melhor do mais profundo amor. Nêle se encerram, como num túmulo de glorias, as divinas emoções da arte pagâ de amar; o primeiro bilhete, a primeira flor. o primeiro retrato, a madeixa de cabelos, que nos enviaram; o aroma do beijo que se deu, do abraço que se ganhou, do primeiro olhar que furtivamente foi trocado... Depois, muito depois, quando a palidez da velhice houver descorado o róseo do papel, o azul da tinta, o encarnado da flor abrir esse escrínio, mas, abri-lo de joelhos, como quem ora a beira de um túmulo e, de rosto sem côr, de olhos marejados e alma comovida assistir à ressurreição infernal dessas mortas ilusões. A hora mais própria para tamanha evocação de amor e, para mim, a meia-noite, quando o silêncio nos permite ouvir o mais leve queixume do coração, quando um luar, perene iluminação de um astro, que já morreu, nos derrama no ser de peregrino, uma saudade que direi universal, porque é de tudo e de todos; de tudo o que fomos, de todos os que nos amaram e que de nós se esqueceram mais tarde. Para outros o crepúsculo é o momento dessas ressureições. A cinza, que a tarde no ar tamisa e o poente emsombra, cai-lhes no olhar, penetra-lhes no coração e o passado se ergue dêsse pó das horas, cheio de iressitível saudade, de pugentissimas recordações. Outros seguem , à toa, e, um dia, seja em que hora fôr, impedidos por uma fôrça estranha, começam de entristecer-se, de procurar os velhos guardados, áte que dão com o escrínio amigo. O mundo se lhes esvai nesses momentos, o tempo torna atrás e na evocação divina do que foram, revivem os amores que são pó, os sonhos que se extinguiram, os juramentos que ele ou ela fêz e o caração não soube cumprir. Ah! Eugenia, esta noite eu remexia, assim, as minhas velhas cartas, quando, como se fossem elas que cantassem, uma serenata se ergueu no silêncio da noite enluarada, abrindo-se no ar daque hora morta, à semelhança de uma grande flôr de perfumes evocadores... E eu me vi, moço e amado, elegante e cheio de vida,  a cantar sob o seu balcão na minha terra natal. Lá de cima, o vulto dela me ouvia, palpitando, certa de que mais tarde, num lar feliz, a minha voz embalaria o berço do nosso amor e teriamos dentro de nós o próprio Céu. Lá de cima... Oh! Eugênia! caiu de chôfre sôbre mim... Lá de cima ela me escutava ainda, mas lá do céu, onde o martirio que me consumia, de santa e virgem a coroou. E Eu me vi, velho e repelido, frande sem vocação, numa cela que é o cárcere do meu sonhar, a remexer reliquias que eu devera esquecer, a relembrar um amor que me matou, a ressuscitar uma vitima do meu coração. Longe, da minha mansa e cheia de luz, a serenata se dissipava na flebilidade da distancia, como um soluço que se desfizesse, humilde e resignado, nalgum berço carinhoso que se abafasse, nalgum peito amigo que de caricia o envolvesse. Eugênia, como é triste onão ter, na velhice de monge, uma destra sequer que a fronte nos ampare nos delíquios do coração. Tu, ao menos, escuta-me; ao menos tu perdoa-me êste crime de ainda amar e no teu escrínio guarda estas confidências de um amor que o mundo ignora, para um dia, quando em cinza fôr, te recordares de mim.



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