Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
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“Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” exibe uma narrativa que joga com as idas e vindas no tempo: o passado e o presente se imbricam conectados à memória da personagem central que deve ser apagada por uma empresa especializada em eliminar lembranças torturantes para os clientes que se submetem ao procedimento. Assistimos os empregados da empresa realizando a tarefa – se divertindo em quanto trabalham - ao mesmo tempo em que Joel Barish (Jim Carrey em uma interpretação inspirada) revive mentalmente - com os estímulos artificiais que o cérebro recebe para reativar o conjunto de lembranças a serem extintas pelo programa - todos os momentos de sua relação amorosa frustrada. No entanto, arrependido, já com o procedimento em andamento, ele faz de tudo para preservar as recordações de sua amada Clementine Kruczynski (a talentosa Kate Winslet).
Joel busca o serviço da Lacuna ao saber que Clementine apagou-o da memória graças ao trabalho da mesma empresa. Porém, apesar da decepção dilacerante que o acompanhava, Joel interfere na execução do avançado processo de eliminação da memória para manter acesso o sentimento que ainda nutre por Clementine. Ele se une a sua companheira, na mente do desesperado Joel, para buscar esconderijos, refúgios para guardar a história a história de amor de ambos. Nesse momento, conhecemos o Dr. Howard Mierzwiak (Tom Wilkson) e seus funcionários (vividos por Mark ruffalo, Kirsten Dunst e Elijah Wood). O envolvimento do Dr. Mierzwiak com a secretária Mary (Kirsten Dunst) nos dá a dimensão de um dos temas do filme. Por mais que deletemos da memória as imagens, fujamos dos erros cometidos, o sentimento que temos por alguém permanece. O estado afetivo é mais forte que os artifícios emocionais ou tecnológicos que podemos inventar. O que atraiu Joel e Clementine deverá (ou poderá) atraí-los todas às vezes que se encontrarem. O que eles são com suas qualidades e neuroses os fazem se identificar e se apaixonar, e isso é indelével.
Esta produção estadunidense de 2004, roteirizada por Charlie Kaufman e dirigida por Michel Gondry, prova que ainda é possível criar obras originais, instigantes e cativar o público com emoção e perspicácia. Percebemos como personalidades distintas como Joel, que é introspectivo, romântico e espera a felicidade, apesar de parecer soturno, e Clementine, que apresenta qualidades vívidas, como ser desinibida, atrevida e é uma moça prolixa, atraem-se de modo natural e intenso, mesmo com todas as diferenças existentes. Diferenças essas motivos da união e causadoras da separação. Gondry e Charlie Kaufman ao criarem esse romance laborioso brincam com a memória, a sinceridade e a decepção num roteiro que retrabalha a noção de narrativa. O tempo linear ou cíclico é reduzido a mero detalhe, pois o tratamento que o tempo recebe o iguala a função de narrador. “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” carrega consigo a indefinição da própria imprecisão das recordações. Lembranças são conexões cerebrais por vezes (e na maioria das vezes) involuntárias. Numa disputa contra a tecnologia, Joel tenta agarrar sua memória e tornar o seu amor mais forte que os “desumanizados” aparelhos científicos. Joel e Clementine se reencontrarão e a aceitação dos defeitos do outro, como parte do que chamamos amor, será sempre um desafio que as qualidades minimizarão. “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” revela-se um cinema de camadas imprevisíveis e saborosas. Inovador, engraçado, romântico. Enfim, um filme memorável.
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